December 10, 2011

Sombras

Conto/Histórico/Personagem orignalmente publicado na RedeRPG.


"Khaibit". Sombra. Okay, essa eu aprendi. Meu genitor continua falando sobre como viemos parar no Brasil e blábláblá. Francamente, não estou interessado.

Olho para o relógio. 2:30 da manhã. Celeste me avisou para esperar ela na entrada do Elísio às 4:00. Ainda tenho tempo. Infelizmente. E mais blábláblá.

´Mestre Ahmed, podemos continuar a conversa depois, senhor? O senhor sabe, hoje é dia de Elísio e Celeste me pediu para apanhá-la...´

Ahmed não fica nada feliz, mas olha para mim, sorri e balança a cabeça, fazendo um gesto com a mão para que eu vá indo.

´Mas venha me ver amanhã ou depois, Sérgio, temos muito o que conversar!´

Eu não olho para trás, mas faço um gesto com a mão esquerda enquanto vou indo em direção a porta, levantando o dedão, concordando com Ahmed em voltar tão cedo quanto possível.

Ahmed é um vampiro velho. Não um velho vampiro. Devia ter quase cinqüenta quando foi abraçado. Não acho que tenha mais de 100 anos. Seu sotaque egípcio dá um ar de humor ao rosto quase sempre sério. Tradicional, já me treina a mais de 10 anos. Por 7 anos fui seu Escravo e não fico nem um pouco ressentido, lhe devo muito.

Lembro quando o vi pela primeira vez. Eu era jovem e estúpido. Assaltei a loja de um egípcio e na noite seguinte, esse velho de 1,70m aparece na minha porta me pedindo para devolver o valor do roubo. Disparei duas vezes contra o peito dele na hora. Em seguida quebrei minha televisão do outro lado da sala ao ser arremessado pelo velhinho. Lutei contra o velho vampiro a despeito dele me arrebentar todo. Acabei impressionando ele e me ofereceu um trabalho (e minha vida) se eu me “endireitar-se”, ele disse.

Entro no meu carro e dirijo para o Elísio. Vai ver ganho alguns pontos com Celeste chegando mais cedo. Como sempre, vou devagar. Nunca gostei de carros e hoje os encaro como grandes e barulhentos caixões flamejantes. Sempre que posso, ando a pé ou deixo o motorista de Celeste guiar. Mas precisava ver Ahmed. Muita coisa estranha tem ocorrido esses dias, e quando digo isso, lembro que como vampiro, as coisas já deviam ter se tornado corriqueiramente estranhas.

Mas é que, semana passada, ao escoltar Celeste quando ela caçava, vi umas coisas estranhas. Ahmed começou a me ensinar como manipular sombras, mas para isso, tive antes de aprender a enxergar na total escuridão. Eu estava praticando isso quando senti alguma coisa no corredor à frente e pedi para Celeste parar, gesticulando com a mão. Estávamos em uma fábrica abandonada, na periferia de Olinda. Não havia luz. Celeste pode também enxergar sem a necessidade de luz, mas isso envolve outra gama de habilidades.

Por isso ela não o viu.

No aposento à frente, havia um homem. Ele se movia como se ainda trabalhasse na fábrica, em uma linha de montagem. Ele parecia chorar enquanto trabalhava e notei que havia um grande rasgão na parte de trás da cabeça dele, como se um objeto metálico, mas pouco afiado, tivesse batido ali com força. Me aproximei e ele continuou a me ignorar, então fiz sinal para que Celeste continuasse. Não houve mais incidentes.

Mas fiquei perturbado. Parece ridículo, um vampiro que não acreditava em fantasmas. Mas era isso. Eu nunca parei para pensar nessas coisas, mesmo depois de abraçado. Claro, Ahmed sempre falou de fantasmas, e enquanto fui seu Escravo (entre várias funções, fui seu motorista), lembro de tê-lo levado para alguns “exorcismos”, mas sempre achei que fosse alguma excentricidade do velho vampiro.

Não consegui conversar com o velho sobre isso. Me sinto ridículo. Medo de fantasmas. Que m.!

Estaciono o carro perto do Elísio. Desço, acendo um cigarro. Lá vem Pedro. O fdp é o Escravo mais metido que conheço, afinal, ele se acha o tal por ser o Escravo de um membro da Primogenitura.

´E aí Pedro, quando vai levar a mordida?´

´Tá apressado para ter um novo patrão, boy?´

´Está bem Pedro, não estou com saco pra isso. O que você quer?´

´Só entender o que está havendo, pitbull. É verdade que sua patroa está comprando briga com os Invictus?´

Não consigo disfarçar minha surpresa e franzo minhas sobrancelhas. Pedro sorri.

´Então você não sabia? Rá! E ainda se considera um guarda-costas...´

Não me rebaixo a perguntar a ele o que houve, prefiro esperar Celeste. O cretino ainda espera um pouco, rezando para eu perguntar sobre o assunto, mas ele dá um sorriso e desiste. E vai andando de volta para o carro do patrão.

Não sei em que m. Celeste se meteu agora. Não é novidade que ela gosta de encrencas. Afinal, quantos se dão o trabalho de ter guardas durante o dia e um guarda-costas vampiro a noite se você não tem o pescoço atolado na m.? Mas eu não esquento. Ahmed me treinou bem enquanto era seu Escravo e depois da mordida me tutorou por mais sete anos. E Celeste contratou A MIM e não outro bastardo, porque ela sabe disso.

Além do mais, ela soube adoçar o acordo para que garanta ainda melhor a sobrevivência dela. Sou o “protegè” dela na Ordem do Dragão, me garantindo uma entrada na organização e treinamento nos Anéis. Se ela evapora, eu perco meu guarda-sol, e francamente, não quero ser tostado.

Celeste demora mais uma meia-hora, que passo conversando com o motorista, Chico. Entro no banco de trás com ela e Chico dirige em direção ao refúgio dela, um apartamento na praça Chora Menino.

‘Foi tudo bem, Celeste?´

´Foi, foi sim. E como foi sua conversa com Ahmed?´

`Bem, muito bem. Olha, ouvi os Escravos comentarem umas coisas...´

`Sobre os Invictus, Sérgio? Não ligue. Eles me acusaram de abrigar um assassino vindo de Buenos Aires. Mas você sabe que isso é tolice, né?´

Ela ainda fala sorrindo... A mordida às vezes faz isso com a gente, equipara homens e mulheres. Do mesmo jeito que, mesmo morto, ainda penso com meu pau, Celeste é uma dessas vampiras que pensa com o sexo. Tolice uma ova. Escoltei o argentino fdp não faz nem 10 dias para o refúgio dela. Sabia que havia alguma m. nele. Ahmed não me ensinou a ver auras ainda, mas sentia tudo quanto era coisa ERRADA vindo dele. Ele está no apartamento dela desde então.

´Sabe Celeste, se você não fosse minha chefe, te dava uns tapas.´

´Hahahahaha! Sérgio, você é cavalheiresco demais pra isso!´

Ela diz isso, sutilmente me mostrando os dentes. Posso até ser o guarda-costas dela, mas em um dia ruim, ela é um dos vampiros da cidade com quem eu REALMENTE não gostaria de estar em um beco escuro.

Chegamos no prédio dela sem grandes problemas. O segurança deixa a gente entrar, mas acho que há algo de errado com ele. Faço um sinal combinado para Celeste, indicando que ela me deixe ir na frente. Olho o saguão com cuidado, procurando alguém invisível, mas não acho nada. Entro no elevador sozinho e faço sinais para ela subir pelas escadas. Ela não se queixa. Me concentro e sumo.

Quando a porta do elevador abre, um imbecil está apontando uma doze pro meu peito. A beleza disso é que ele não sabe que eu estou na frente dele e espero ele olhar para outro lado e esfaqueio ele na garganta, enfiando a faca pra cima. Seguro o cabo da faca até ele encostar devagar no chão e com a outra mão eu agarro a doze.

Puxo a faca da garganta dele e sumo de novo. Tento não olhar pro sangue e continuo andando. Dois caras aparecem vindo da escada, olham pro amigo e começam a me procurar.

Eu deixo eles passarem e então eu vejo outro cara. Dessa vez, um vampiro. Seguro a onda de raiva e fico de olho nele. Não senti medo, nem a vontade de estraçalhar ele, então deve ter por volta de uns vinte anos também. Ele cheira o sangue do humano morto e lambe a ferida.

O fdp vai me ver!

Não dá outra, ele puxa duas pistolas e aponta na minha direção.

Putz... alarme falso, ele blefou. Podia jurar que ele ia me ver.

Os dois humanos voltam e ficam em frente a porta do apartamento de Celeste. O vampiro vai pra junto deles e falam em cucaracho, que eu não entendo p. nenhuma.

O vampiro bate na porta e chama por Arturo, o Azerkatil argentino.

Ele fica tão surpreso quanto eu quando a porta esfumaça e se contorce, como se alguém tivesse jogado ácido nela, e das brechas, saem os braços de Arturo pegando o outro argentino pelo peito.

O vampiro grita. Essa é minha deixa.

Descarrego a doze a queima roupa na cabeça dele.

Ouch!

Os mortais assustados atiram a esmo. Um deles dispara enquanto umedece as calças. Puxo o sangue e com um movimento, parto o crânio de um com o cabo da doze, que por sua vez, quebra.

O último dos cucaracha descarrega a arma em mim, mas eu puxo o sangue de novo e dou um soco tão forte no infeliz que sinto minha mão quase quebrando. A cara dele quebrou.

Enquanto ele cai no chão vejo que ainda me acertou duas balas no peito e puxo o sangue para expulsar o metal e fechar minhas feridas.

Olho pra porta do apartamento e vejo Arturo nu, olhando pra mim e sorrindo. O sangue do fdp parece até de alien, ainda corroendo a porta.

Puxo um dos mortais pelo pescoço, suspendendo-o e vou bebendo seu sangue enquanto ando pra o elevador.

Celeste chega pela escada.

Passo por ela e jogo o corpo do cucaracha no chão enquanto as portas do elevador se abrem, olho pra ela e digo: ´Eu mantenho o seu rabo inteiro, mas não limpo sua sujeira´.

E vou para o térreo e para casa.

Ô vidinha besta, essa.


* * *


Idéia inicial: Mekhet/Khaibit que desconhece seu legado de Khaibit, uma bloodline criada para combater demônios e espíritos maus. Trabalha como “segurança” de um outro membro da Ordo Dracul. Histórias com ação, background político, interação com mortais. Lentamente vira triller de horror e história com fantasmas quando ele se deixar tomar pelo seu legado. Isso transforma também o personagem que começa a desenvolver-se além do self-awareness e preocupar-se com o mundo a seu redor, inclusive com mortais.

No começo, Sérgio é um "kick-ass mofo" que não pensa duas vezes em apagar um mortal ou vampiro que lhe der problemas. Sua “patroa” é um problema constante, mas normalmente se safa porque tem as conexões certas, mesmo entre membros de covenants que normalmente odeiam a Ordem do Dragão, como os Lancea e os Crone. Isso só reforça sua mania de flertar com problemas.

O anjo da guarda de Sérgio é Ahmed, sempre pronto a lhe dar conselhos. No entanto, Ahmed nunca vai protegê-lo fisicamente, ele já ensinou tudo que sabia sobre artes de combate e acredita que Sérgio deve saber se virar sozinho, senão, quando o legado do Khaibit lhe alcançar, ele não estará preparado para realizar sua função de guardião de Set e será destruído pelas forças de Apep.

O resumo de ficha abaixo:


Sérgio Ramos
Conceito: Herói Sombrio
Clã: Mekhet (Khaibit).
Coalizão: Ordo Dracul.
Abraço: ?
Idade aparente: 28.
Atributos Mentais: Inteligência 2, Raciocínio 3 e Perseverança 2.
Atributos Físicos: Força 3, Destreza 3 e Vigor 3.
Atributos Sociais: Presença 2, Manipulação 2 e Autocontrole 2.
Habilidades Mentais: Erudição 2,Informática 1,Investigação 2, Ocultismo 2.
Habilidades Físicas: Armamento 1, Armas de Fogo 1, Briga (Kung Fu) 4, Dissimulação 1, Esportes (Arremesso de Facas)2, Furto 2.
Habilidades Sociais: Empatia 2, Intimidação (Voz) 2.
Vantagens: Kung Fu 5, Mentor 1, Recursos 1, Refúgio (Tamanho 1, Segurança 1) 2, Saque Rápido (Armas Brancas), Senso do Perigo, Status na Coalizão (Ordo Dracul) 1.
Força de Vontade: 4.
Humanidade: 5.
Virtude: Fortaleza.
Vício: Luxúria.
Vitalidade: 8.
Iniciativa: 5.
Defesa: 3.
Deslocamento: 10.
Potência do Sangue: 3
Disciplinas: Auspício 1, Ofuscação 3, Resiliência 1 e Tenebrosidade 1 (Obtenebration).
Vitae/por turno: 12/1.


Descrição: 1,78 m, 80 kg, pele morena clara (oliva), etnia indefinida (poderia se passar por italiano/árabe/grego), cabelos negros e curtos (corte militar). Sempre usa roupas soltas que permitem liberdade de movimento e não revelam sua musculatura.

35 Pontos de Experiência (+10 pela redução em -2 de Humanidade) gastos da seguinte forma:

16 – Blood Potency 2
5 – Obtenebration 1
5 – Auspex 1
5 - Vigor 1
4 - Danger Sense
2 – Heaven Size 1
2 – Haven Security 1
2 – Resources 1
2 – Mentor 1
2 – Quick Draw (Melee)

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