April 16, 2012

Escrever ou não escrever?

Cheguei agora da União Brasileira de Escritores (UBE), de uma reunião que foi bastante produtiva sobre a antologia de contos fantásticos que eles estão promovendo. Vejo que preciso rever o que quero fazer para a antologia, se quiser de fato participar dela. Excelentes as críticas ao material que apresentei, apontando os problemas e que são muitos e já me ajudando a avaliar que conto posso ou não apresentar, representando melhor o gênero em questão.

Em particular, para mim, gostei ainda mais de uma conversa com André de Sena, já além daquela da UBE. Em suma, girou se é positivo ou não o meu atual ritmo de produção textual. Para ele, o texto literário é produto de uma alquimia. Algo que deve ser trabalhado com mais cuidado, dilapidado. Francamente, ainda não sei se concordo. Não que não poderiam tornar-se melhores, mas não me sinto estimulado, por exemplo, em me debruçar sobre um texto que escrevi faz 10 anos atrás, ou 10 meses, ou 10 dias ou mesmo, admito, 10 minutos. Para mim, tudo que escrevo é um instantâneo de um momento. E foi-se e não quero sequer rever o momento, porque já o expurguei. E não deixa também de ser um exercício. Acho que escrever é preciso, a escrita é um músculo que deve ser estimulado, flaxionado, diariamente.

Outro ponto é a "publicidade". Vamos dizer que continue escrevendo diariamente, mas devo expor o que escrevo? Ou tornar público só aquilo que melhor represente o que desejo como escritor (mesmo amador)? Apesar de muitas vezes, reservado, sou uma pessoa direta e acho que isso se reflete na minha maneira de fazer as coisas. Além do mais, aprecio a crítica construtiva que pode vir de gente que lê meus textos. Mas entendo os problemas que podem vir disso, ele citou por exemplo escritores que se arrependeram de textos iniciais que foram publicados.

Bem, tenho de pensar, mas por enquanto nada muda.

2 comments:

cmagnata said...

Lendo isso lembrei disto aqui:

Whether it is right or advisable to create beings like Heathcliff, I do not know: I scarcely think it is. But this I know: the writer who possesses the creative gift owns something of which he is not always master - something that, at times, strangely wills and works for itself. He may lay down rules and devise principles, and to rules and principles it will perhaps for years lie in subjection; and then, haply without any warning of revolt, there comes a time when it will no longer consent to 'harrow the valleys, or be bound with a band in the furrow' - when it 'laughs at the multitude of the city, and regards not the crying of the driver' - when, refusing absolutely to make ropes out of sea-sand any longer, it sets to work on statue-hewing, and you have a Pluto or a Jove, a Tisiphone or a Psyche, a Mermaid or a Madonna, as Fate or Inspiration direct. Be the work grim or glorious, dread or divine, you have little choice left but quiescent adoption. As for you - the nominal artist - your share in it has been to work passively under dictates you neither delivered nor could question - that would not be uttered at your prayer, nor suppressed nor changed at your caprice. If the result be attractive, the World will praise you, who little deserve praise; if it be repulsive, the same World will blame you, who almost as little deserve blame.

Charlotte Brontë, em um prefácio para Wuthering Heights.

Haroudo Xavier said...

Obrigado Cecília. :)
E o que eu sinto é muito isso, mas do que um exercício, é também uma necessidade. As vezes, sim, a ideia é forçada, pois eu me impus esse ritmo, outras a ideia vem. Durante anos eu tive vontade de escrever isso e aquilo e simplesmente ignorava, deixava para depois. E sim, meus textos poderiam ser mais longos, mais elaborados, mas é algo que, eventualmente, eu posso fazer já com um framework que coloquei as vezes, em um texto que não me levou 8 minutos para fazer. O pitch que eventualmente ganhou das outras ideais e me vendeu a própria ideia de que ele, em vez de tantos outros, deveria sobreviver aquele dia. Valeu mesmo. :)