April 22, 2012

Estrela


Ele olha a piscina e entra nela.
Ele não se importa com as folhas mortas na superfície.
Na água, sua pele parece azul.
Nada importa, no frio que cobre, que lhe alivia do mundo.
Ele nada na piscina grande, sentindo seus músculos, braços, pernas, peito.
A água se abre para ele, fria, delicada.
Ele mergulha no fundo da piscina.
Sente um medo irracional, de peixes enormes vindo de depois da curva da piscina em L.
Mas fica ali, no escuro, segurando no sugadouro.
Deixa seu ouvido doer, volta.
Respira.
Olha o clube que cerca a piscina.
Lembra de sua infância.
Água, que é sonho, que é memória, que á passagem, que é esquecimento, renascimento.
Tudo, na piscina.
Onde vinha com os pais.
Onde aprendeu a nadar.
Onde veio beijar.
Onde vinha ralaxar.
Onde, um dia, veio até mesmo chorar, longe dos olhos dos outros.
Mergulha.
Atravessa por debaixo da água, ignorando as folhas quando emerge.
Ignora tanto.
E o faz por necessidade.
As árvores que racham as paredes do clube reagem irracionais.
Ao fim.
Ao abandono.
Ao fugir.
Hoje é a última noite do mundo.
Onde nasceu, onde veio para morrer.
Nadando, dentro de sua mãe, até um dia, poder repirar.
O ar.
Desse mundo.
Desce mundo.
E ele nada.
Como um leviatã, com braços rente ao corpo.
Uma foca.
Golfinho.
Peixe.
As folhas verdes. vermelhas, marrons.
Um tapete sobre a água, filtrando o sol.
Azul.
E a nave vem.
Hoje, a nave vai.
E vamos todos. De volta.
Para o planeta azul.
Viver um pouco mais.
E morrer onde não nasci.
Terra.