May 05, 2012

Um Problema Invisível


Ele olhou para o celular.
Nada.
Olhou as barrinhas de conexão e, bem, estavam cheias.
"Se é assim, é assim.", pensou desconsolado e vou fazer seus afazeres, beber sua cerveja, rever seus reveres.

Ela olhou para o celular.
"De novo". E deixou o celular de lado.
Inquieta e com saudades, ainda assim, confusa, preferiu não mexer, nem ser mexida.

E os dias passam, noites caem, o sol se ergue e vai e volta.
E eles não se falam.
Ele olha seu celular após a mensagem enviada. Ansioso. O grito-pedido-apelo-desejo...foi. E sua reposta, não veio.
Ela vê que vem, mas não chega chegando. Prefere dar tempo, num desmelexo cego, ignora o grito-pedido-apelo-de-sejo, que vinha assim, só: "Saudades.", assim, é: Saudades. Ponto. E mais nada. E nada precisava.

Ela sumiu. Conseguiu. Sublimou a si, sem dano, engano, corrente de ar que virou, se foi.
Ele nem viu. Mas também, sentindo, partiu.

Ela acorda e não se vê.
Sua imagem, refletida, não é.
Sente medo. Grita. E ninguém responde.
Se cheira. Não há. Que essência havia, se foi.
Seus passos são inodoros, sua voz invisível, seu corpo inaudível.
O tato que lhe sobra é pouco mais que sombra.
E como tal, suas lágrimas se desfazem na luz.
Com custoso custo, sai da casa, não fingindo descaso.
O desespero que lhe move, com peso de um mundo, leve, pois nada mais é.

Corre a rua, corre o bairro, corre a cidade.
Visita shoppings, cemitérios, verificando se, tornara-se zumbi ou fantasma, mas não sente fome, nem assombra ninguém.
Só a si.
Passa os dias e noites, assim, sem si. Alguém que se abandonou, mas aqui, ficou.
Procura os amigos, que não lhe enxergam.
Seus ex, que não lhe escutam.
A família não lhe sente.
Ela se perde, em si, e não se acha em ninguém.

E ele a vê.
Numa rua qualquer.
Num dia sem rumo.
Assim, quase sem querer.

E ela o vê.
Sua pele castanha.
Seus olhos negros.
Seus cabelos grisando.

E eles deixam de ser.
E eles se veem.
E são vistos.
E ouvem.
E gritam.
E saudades.
Pois, desinvisíveis.
Sem Ponto. Sem Final.

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