[INCOMPLETO, VOLTE DEPOIS!!!] :P
O padre vai pra sua casa. A igreja, com um número cada vez menor de fiéis, o deprime.
Como pregar o amor ao próximo, a compaixão, quando a sociedade fez uma escolha pela violência, pela exacerbação do ódio?
Ele sabe como, mas ele não acredita mais.
Seu apartamento é um convite.
No térreo, o padre deixa a porta aberta.
Apenas um cão, um holo, guarda a entrada contra animais e pestes.
Ele escuta os sons na rua.
Tiros.
A eterna sinfonia das noites do Recife.
Ele não tem uma arma.
Sua arma é a fé.
Mesmo alquebrada.
Faz seu jantar, come em silêncio.
Pelo canto do olho vê as notícias.
E vai deitar para dormir.
Enquanto o sono não chega, navega na rede.
Se mantém na rede local, observa a vida dos católicos da sua congregação e de outras próximas.
Mas não intefere. Só observa.
O sono chega, e ele vai.
Acorda de madrugada.
Aliás, é acordado.
Um homem está sentado em sua cama.
Ele tem uma arma.
Ele aponta para seu própriio coração.
O padre olha, com curiosidade e espanto.
O homem vê que ele acordou. Mas não diz nada.
Ele pode chamar a polícia. Pode chamar todo tipo de serviço, bastanto mover e piscar os olhos na sequência correta.
Mas faz sua escolha. E fala.
- Boa noite, meu filho.
- Olá, Padre.
- Posso ajudá-lo?
- Não acredito que possa, Padre.
- Por quê? O que lhe aflige, meu filho?
- O mundo, Padre.
- Mas o quê, meu filho?
- A violência, a destruição dos princípios, da família, do respeito ao próximo...
Isso ecoa em Francisco, como cordas de um instrumento familar, gravando em seu peito um som amargurado e agudo.
- Meu filho, sinto a mesma angústia.
- Então, Padre, o que faço?
- Em primeiro lugar, baixe a arma, meu filho.
- Não.
- Não?
- Não.
- Está bem, mas não sei como lhe aconselhar, sem que você me deixe menos angustiado.
- Não vim atrás de conselhos, Padre.
- Que posso então fazer por você?
- Quero me confessar.
- Está bem, meu filho. Se incomoda de formas a igreja?
- Não. Não me incomodo.
O Padre pede licença por alguns minutos. Usa o banheiro, lava o rosto, troca de roupas.
Quando sai, fecha a porta. O holo, concedido pela igreja para assistí-lo em seus ofícios, muda de aspecto. O coroinha segue então o padre e o homem.
Na igreja, e mais calmo, o padre reza em silêncio.
Ele teme.
Sente o desespero do homem e não deseja sentir a sua morte, não deseja a responsabilidade por outros.
Não dessa forma, tão real, concretamente dura, mortificante.
E ainda assim, não consegue escapar de seus deveres, de sua missão.
- Pronto, meu filho. Confesse.
- Não sei por onde começar, Padre.
- Quando foi a última vez que se confessou?
- Mais de dez anos atrás.
- Tem ido a missa?
- Não. Sinto vergonha.
- Meu filho, todos nós erramos. Isso não é motivo para e afastar de Deus.
- Não sei, Padre.
O Padre escuta sua insegurança, porém, seguro, o homem mantém a pistola encostada ao peito.
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