June 02, 2012
Ressaca
O sol é uma coisa aborrente, assim, noelogisticamente falando, puta coisa horrenda.
Diferente do alarme, nem sapato tamanho 44 mata.
E me torra os olhos e a cuca e paciência que já é pouca.
E deito pro outro lado e não consigo dormir. Quem diabos quebrou a janela?
- Alguém aí?
De quem é essa porra de sapato?
Pelo menos é de mulher. Acho.
Será que matei dragões a noite passada e me sobrou a carcaça para jogar porta afora?
- Porra, tem alguém aí, caralho?!?
E me levanto, porque, quem quer que esteja aqui, não levanta o rabo de onde diabos está nem fudendo.
- Aí! Porra...
Merda. No que diabos escorreguei.
Eca. Será que nunca lembro de jogar fora essas camisinhas quando volto bêbado. Puta merda.
Uma calcinha no corredor. Acho que ela ainda está aqui.
Peraí. Deixa eu aproveitar e mijar.
A porta fechada, não, só encostada.
- Eita, cheiro de vômito da porra...
O banheiro tá uma desgraceira só. Ligar esse chuveiro, dar descarga. Mijar de longe pra não pisar no resto de vômito.
Putz. Perdi a fome.
E reconheço o camarãozinho de ontem. Onde comi isso mesmo?
Já sei...
Mas não lembro de ter bebido tanto...
Tenho de chamar uma mulher pra limpar essa zona. Dona Dilma trabalha hoje? Não lembro. Que merda de dia é hoje? Aliás, acadê a porra de meu celular?
- Tem alguém aí? Acorde aí.
Só pode estar na sala.
Batata!
Rapaz, o negócio tá tão ruim não. Menos um dragão na lista, ainda bem.
Qual o nome dela? E ronca, hein? Bonita, mas ronca que nem um trem.
Bolsa pequena, preta. Carteira está onde? Isqueiro, perfume, lenço, batom, caneta, espelho, pinça, absorvente, óculos escuro, cartões, celular, carteira...Sílvia! Claro, Síl...
Não lembro de nenhuma Sílvia.
Aliás, qual a graça de comer mulher boa que você não lembra nem do nome? Putz.
Cachaça da porra.
- Ei princesa, acorda aí que tenho de sair.
A infeliz ronca, viu? Acordar que é bom, nem nem.
Tomar banho, vestir roupa limpa e fazer um café básico.
Água gelada da gota. Quando esse chuveiro queimou?
Barulho na sala.
- Oi! Sílvia?
Silêncio.
Cadê o diabos da toalha? Porque nunca deixo as coisas onde preciso? Merda.
- Sílvia, peraí...
- Haaaaaa!
Escondo as partes e volto pro banheiro.
- Desculpe. Pode me jogar a toalha? Deve estar na mesa da sala.
- Quem é você?
- Joelson. Não lembra de mim?
- Não lembro de NADA. Olha, tenho de ir, depois você pega sua toalha!
- Ei, espera aí!
- Olha, eu tava bêbada! Não sei o que eu estou fazendo aqui, onde é aqui, nem lembrava de seu nome!
- Isso é motivo para você ser mal educada? Me joga a toalha e a gente conversa, te preparo um café.
- Ai meu Deus, não me fala em café...uurggh...
- Me joga a toalha e você pode usar o banheiro, vai.
Ela me joga a toalha. Bonita mesmo.
Ela, não a toalha.
- Desculpa a bagunça, acho que não chegamos bem não.
- Uuurrhhhghghgh.
Meu Deus...
- Você precisa de algum remédio?
- Nâo. Mas você tem pasta de dentes?
- No armarinho de remédios, a esquerda do espelho.
- Obrigada.
5 minutos de silêncio, Visto a roupa.
- Então, quer café?
- Aceito. Você fuma?
- Só cachimbo.
- Sério?
- Sério.
- Seu nome é qual mesmo?
- Joelton.
- Gosta de ler, não?
- Pois é, gosto sim. E você, o que faz?
- Sou arquiteta.
- Um artista, então.
Ela sorri. Acho que vou pedir bis, e dessa vez, lembrando...
- Eu tenho de ir.
Droga. Telefone.
- Claro, claro. Eu tenho de ir trabalhar. Mas estou em desvantagem, você sabe onde moro e eu não sei sequer seu telefone.
Ela sorri de novo. Anota o número em uma página de uma agenda, rasga e me dá.
- Me liga. A gente pode conversar mais. E você, trabalha com que?
- Eu trabalho na ABIN.
- ABIN?
- Agência Brasileira de Informação.
- É jornalista?
- Nâo exatamente. Eu faço análise de dados.
- Sei...bem, tenho de ir.
Ela sorri, pega a bolsa, espera eu abrir a porta e sai.
Diabos, ela É bonita...
- Olívia, aqui é Camila, está me ouvindo?
- Estou sim, Camila. Aí também, sem ruído?
- Sem ruído, a ligação está ótima.
- Almoço as 4.
- Está ótimo. Almoço as 4.
A espiã desliga o celular e olha para a casa.
Mais um trabalho bem feito e insuspeito.
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