May 29, 2012
Estalo
Ela correu no meio da calçada molhada.
A chuva havia caído forte, depois de uma tarde de muito sol.
Chuva inesperada, fria, criando poças de água e lama entre carros e pedestres.
Ela para.
Não há mais chuva. E ela para.
A calçada iluminada pelos velhos postes, pela lua minguada, brilha como óleo.
Ela fica na calçada olhando, talvez, para lugar algum, na noite estranha e úmida.
A parada de ônibus fica apenas alguns metros de onde ela está.
Talvez ela vá para algum lugar de ônibus, mas não decidiu ainda.
Não presta muita atenção, mas o vê de longe, percebe ele vindo apressado.
Ela não ofega. Talvez, nem sequer esteja cansada.
Mas fica ali, como que esperando, em pé, na calçada brilhante.
Ele olha para os lados, carrega uma bolsa pesada.
Parece cansado, mas isso o dá mais força, de uma maneira que ela não entende.
Não parece sequer notar que ela está lá.
Ele pensa em sair do caminho, mas decidida, fica.
O que há para temer? Ele não a conhece. Nunca se viram antes.
Ela espera.
Ele anda com passos largos, corpo que lhe parece enorme, sapatos grandes.
Ela hesita sobre o que fazer.
E ele a pisa.
O estalo é audível.
Um som que parece o de pipocas no fogo.
Ela explode sob seu sapato.
O homem não liga.
As baratas, ninguém ama.
Ele continua andando, apressado e um pouco satisfeito.
Acabou de matá-la e sorri.
Talvez com outra coisa.
Talvez com o som que marca o assassinato premeditado.
E ele atravessa, apressado a rua.
Cheia de lama.
Com poçs criadas.
Asfalto vencido.
Carros mal governados.
E o estalo é audível.
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