July 20, 2013

B


Gosto de sentir o pau na boca. É tudo aquilo para o que treinamos com um beijo. Ouvir os gemidos, sentir ele endurecendo. É uma delícia. Eu adoro cacete. Acho lindo. Homem nunca entende isso, né? São treinados para achar feio, como nós somos treinadas para não amarmos nossas bocetas. Que erro horrível, quando há tanto acerto nisso, em sentir a porra escorrendo pelo canto dos lábios, ele estremecendo, mal se aguentando em pé. Duro, molinho, é tão bonitinho. Mas a gente nunca pode dizer isso, né? Magoa o cliente.

Conversa tanto, esse moço. Eu finjo escutar com atenção. As vezes é só isso que nos move, né? Um pouco de sexo aqui, um pouco de atenção ali e vamos indo.
- O que é aquela estátua?
- Istar.
- Istar? Isso é inglês? Estrela, né?
- É, acho que é.
Eu sorrio. O sorriso caloroso, amigável, um sorriso satisfeito, que mata a conversa sobre mim, que se foca sobre ele. E ele conversa sobre tudo, sobre sua sobrevida subvida, enquanto lhe acaricio o corpo nu.

Ele deixa o dinheiro com Lulu. Lulu é enorme, mas um eunuco. Que pena, viu? Que homão.
Enquanto espero o quarto cliente da noite, tomo um banho quente e frio. Me limpo bem, todinha, seguindo as tradições, com óleos aromáticos e outros perfumes, sentindo as sâmaras de bétula se partindo entre meus lábios, esfregando no meu corpo até gozar ao cheiro da madeira, um banquete pro olfato, pro tato, pro paladar de quem me prova.

Portishead enche o quarto e banheiro, adoro música antiga. Já escutei de tudo, até baião. Tem cliente que pede. Lembro de uma que achei ridículo, algo de um balão azul. Não lembro se música ou banda. As vezes, até meus ouvidos eu prostituo.

A luz se acende no quarto escuro. Olhos as velas, especialmente as que estão no pequeno altar. Está tudo em ordem, como devem estar. Beijo a deusa e saio pela porta. Tudo são rituais, como devem ser. Há tanto sexo, tanta oferta e procura. Eu atendo apenas um pequeno e feliz nicho. Homens que não aceitam a bruzundunga de outros locais, ou que se cansam do sexo virtual, tão real hoje em dia, mas que os deixa cheirando a óleo de máquina látex. Tanta bobagem. Só o que interessa é a carne. Carne para se provar com dedos, olhos e dentes, num rasgar-se delicado de tesão.

- Oi, meu amor.
- Olá, tudo bem.
- Tudo, sim.
Eu sorrio para câmera. Do outro lado, no pequeno monitor, ele me enxerga, mas a imagem não pode ser gravada.
- Gostou de mim?
- Gostei, gostei sim.
Eu abro mais o sorriso. Empino mais os peitos, sutilmente. Meus mamilos duros, visíveis através do cetim branco.
- Que bom, meu amor. Primeira vez aqui, não é?
- É, minha primeira vez. Quer dizer, aqui. Minha primeira vez aqui.
Mantenho o sorriso. Ele é engraçado, mas não bonitinho. Cara de homem, não de criança. Tão difícil isso hoje. Parece besteira, e eu não devia ligar pra isso, mas ligo sim.
- Lulu lhe explicou tudo?
- Sim, sim.
- Então, quer se desligar e entrar aqui comigo?
Eu sei que ele quer, mas o moço hesita. Todos são tão... Viciados. Agora mesmo, enquanto conversamos, deve estar recebendo mensagem de amigos, lendo notícias. Percebo pelo movimento de seus olhos, pelo gesto rápido da cabeça, navegando num completo mundo vazio, onde você perde sua significância tão rápido, que faz com que você busque nos outros o seu eu. E aqui estou, uma alternativa para tudo isso. Prazer, em boca, vagina e bunda, e ele não sabe quem prefere que lhe chupe, se sugado por uma máquina, ou que lhe dê um boquete.
- De onde você é, meu amor?
- Brandemburgo.
- A cidade ou a estação?
Ele fica surpreso. Tal qual tantos beócios, assume que sou burra. Eu respiro fundo, irritada, mas controlada, disfarço com a língua passando pelos lábios. Oh, Istar, me dê paciência.
- Na verdade, o navio.
- Haa...
Ele gosta do "haa...", todos eles gostam. E agora estou entendendo ele melhor. Ele quer o controle. Que pena pra ele.
- Meu amor, você pode entrar ou voltar ao seu navio para descascar batatas, mas, sabe, a noite e curta.
Que gargalhada! Admito, gostei dele. Obrigada, Istar!
- Está bem, estou desligando.
A tela confirma que sim, e eu abro a porta. Ele entra sem medo, ainda se acostumando ao escuro.
- Me dê a mão, eu te levo.
Ele tem dedos e mãos fortes.
- Agradeço sua benevolência.
Eu sorrio no escuro, para mim e minha deusa.
Abro a porta do pequeno quarto, nos deixando sentir o calor das velas. Eu o conduzo até a cama. Ele me pega forte pela cintura, mas me solto. Olho para ele, não vejo beleza, só vigor. Ele me devora aos poucos. Sem refinamento. É daqueles que chama boceta de buçanha, mas gosto dele e não perdemos tempo. É sexo e é guerra, oh, Istar, como gosto disso. O enorme ruivo me pega como uma boneca. Eu escapulo e o cavalgo, o bucéfalo em fogo, um dervixe sexual, em que nossas genitálias se agarram e nos impede que nos partamos.
E o mundo gira e as pessoas se afastam, mas estamos ambos aqui.
Istar e Tor, como a tanto tempo atrás, através de tantos anos.
Istar e Tor, fazendo amor, e nos fudendo tanto.

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