April 14, 2012

S2


Ele olha para si no espelho. Para as coisas que pode ou não mudar. Para as coisas que ignora, mas que vê.
Coloca a camisa, dá um nó na gravata. Só então se preocupa em vestir o resto da roupa. Porquê? Ele não sabe. Só pensa nisso depois.
- Vamos?
- Sim, vamos.
Os dois descem as escadas ouvindo o som de seus sapatos.
Está escuro. Uma lâmpada quebrada no post e a rua se torna um bréu só.
Isso não importa quando entra no carro e partem.
Uma única imagem, dois passageiros, irmãos inconsaguíneos.

O bar não decepciona. Apinha-se em multitudes de solidão.
Ilhas de vazios iluminadas por telemóveis antipáticos.
Eles não ligam.
Caminham pelo mar de corpos esculpidos em estupidez.
Tal como o seu.
Sua imagem refrata. È vista em todo lugar. Assim como a de todos os outros.

Ele vai de lugar em lugar.
Procura.
Caça.
Não.
Não.
Não.
De formas comuns, usuais, alguma criatividade, sutileza, em outros momentos, é seco, sórdido.
Não.
O mar de torna lago, que se torna rio.
E não.

Eles retornam.
Que são um. Uma sombra criada de necessidades.
Ele se cansa.
Parte contra a imagem refletida.
Longe da sombra ideal, mostra o medo, mostra a si.

Quebra-se.
Restos humanos. Nada além disso.
Escolhidos a esmo, dentre as várias máscaras.
Qual vaidade inútil.
Qual desejo vazio.

Olha para si no espelho, partindo-se em fragmentos de metal.
Belos, hediondos. Todos parte de si e tão pouco.
Como uma imagem morta de si, numa estrada solitária.
Reflexos imperfeitos de luz.
Ele fica inerte.
Ouvindo o espatifar interminável de sua alma.

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