April 13, 2012
Recado do Fim
O carro de som anuncia a alvorada. Ele passa lento, sua mensagem, conhecida por todos.
As portas se abrem algum tempo depois e as pessoas o vão seguindo.
Marchando, caminham na cadência da música.
Seguem até as fábricas, obedecendo ao carro de som, pegam os alimentos.
A lista cantada, diferente da desejada, é a música obedecida.
Outro carro de som surge no horizonte, outra leva de prisioneiros.
Seguem as canções que um dia, significaram.
A propaganda seca dos carros, as palavras de ordem, o consumo sem escolha.
E o mundo, num carro de som.
Ela acorda atrasada. O carro já partiu.
Perdida, depois de muito tempo.
Pensa.
Sai ao sol, sem ordem, por vontade.
Não há música.
Ela vê os carros, distantes, mas não os ouve.
Caminha em seu jardim e suspira.
Desprogramada, num acidente.
Corre para a geladeira, pega apressada o que vê, busca roupas, faz um saco.
Corre novamente para rua. Vê um carro, longe, se aproximar.
Um novo carro de som. Vermelho. Os outros são brancos.
Ela corre. Desacostumada, cai. Mas levanta e corre.
Cai novamente. Olha para o joelho, que nunca sangrou antes.
Se força a levantar-se.
O carro, como a macha de sangue, esgueira-se cada vez maior.
Ela corre, dessa vez, com mais gosto.
Segura a dor e as lágrimas.
E corre para as colinas.
E não há nada.
Ela vê o mundo.
Cinzas.
E desafiando as pedra, o carro vermelho vem, lento, subindo atrás dela.
Ela o escuta, mas não entende.
Não é uma música. Falam com ela.
Mas a fala não é igual.
Não é o ícone sonoro, qual as músicas se tornaram.
Ela corre mais. E para.
Para onde correr?
Só vê cinzas.
O mar, verde, após as ruínas do Recife, não é convidativo.
Como cruzar os Rios da cidade sem pontes?
Ela não sabe nadar.
E lá vem o carro.
Eles param de falar e tocam as músicas.
As odiosas músicas.
As músicas que a fizeram viver num padrão.
Um consumo sem sentido, uma música sem razão.
Ela vai tapar os ouvidos, e entende, a música.
Ela acalma. E aprende, lentamente, a ouvir.
Compreende quem são.
Os homens e mulheres no carro de som vermelho.
Ela é um deles.
Desperta, podendo enfim, escolher.
Não mais seguindo a música.
Ela entra no carro, de volta ao refúgio.
Para cuidar dos que ainda não despertaram.
Para ser esperança.
Para cantar.
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