Nêmesis

Da minha cabeça tu brotas, forte, libertina, raivosa.
Eu te cuspo e te beijo.
O frio me acerca, resseca.
Seca, morta, te devolvo ao chão.
Marco teu nome em tua fronte.
Uma palíndrome, que captura teu fantasma.
Hannah. Suspiro em seu ouvido desenhado:
- Hannah.
Teus olhos pintados não abrem.
Mulher, que se faz barro e sangue, te vejo vir.
E deixo seu corpo, forma lhe tomando, a respirar, pela primeira vez.
Vou, a sacada da casa. Observo a noite.
As ruas escuras da cidade, estreitas, espreitam.
Tu caminhas, nua, crua, de barro ainda secando.
Me abraças e me beijas.
Suga minha vida por um instante.
Sabe seu caminho, e parte.

Volúpia indigesta, lembranças de festas.
Tua forma na terra te assombra e persegue.
Eliminar tua vida é sua sina.
Vingança tardia, cobranças vazias.
De um baile de máscaras, uma fantasia rasgada,
um beijo roubado, um amor perturbado.
O golem segue pelas suas de Roma.
Destruir ela irá, teu amante morrerá.
"Quando em Roma", eu te prometi, "Eu estarei lá"...

A vila de Natália é bem guardada.
Cães. Dois seguranças.
E Renner, seu próprio golem. Seu amante.
Na Itália, mesmo a sombra do Vaticano, Nix ainda impera.
E sob seu manto navega Hannah. Dos cães cuida fácil.
Os seguranças veem a mulher nua envolta em sombras e hesitam.
Não duram muito.
Enfim, os golens estão frente a frente.

Ele se atracam. A carne mal formada de Hannah, logo cede lugar ao seu núcleo.
O barro ainda mole. Que Renner penetra com sofreguidão.
O sexo entre as criaturas é feroz.
O amor lascivo, úmido e incansável, a destroem.
Hannah não passa de uma pilha de barro, que ainda tenta responder ao paixão de iguais.
Renner, em desespero, risca seu nome.
Sem a palíndrome, os fantasmas que o animavam fluem de volta para o Tártaro.
Mortos, ambos.
Pilhas de nada.

Natália chega logo após.
A vingança de Giuseppe lhe queima a alma.
Seu homem ideal, feito pelo velho, agora é nada.
Mas ainda se mexem, como lama que ama.
Ela faz uma prece para Éris, cospe na pilha de terra.
Após um último estremecimento, ela para.
Assim a aluna anula a missa.
De nada valeram suas mentiras, e enfim traição.
Mas ela sabe, ele não vai tocar-lhe.
Ele ainda quer sua aprendiz.
E ela irá visitá-lo e o verá nomente naquele lugar.
Assim a aluna anula a missa.
Ele ainda precisa de seu suspiro
A sua boca quente.
E tudo mais que o inspiram.
Uma Musa de carne e osso.
E afinal...
Roma é amor.