April 24, 2012
Sobre processos
E aí uma amiga diz que queria entender como eu penso e eu digo que não faço a mínima ideia. O que é verdade. Não faço mesmo. Nem sei se ela fala só do texto. Se for, as estruturas narrativas estão lá. Todas as histórias já foram, um dia, contadas. Não estou dizendo que não se pode ser original, mas entendo que há estruturas que funcionam, sistemas que podem ser usados continuamente, a narrativa não representa dificuldade. Não é preciso bater uma toda vez que se ouve falar em Joseph Campbell (já, Linda Hutcheon, merece toda atenção). O monomito funciona, mas o lance também é um pouco de "sim, funciona, mas vou sempre escrever a mesma história usando um skin diferente?". A catarse independe dessa estrutura, a história, a emoção. Acho que aí é onde entra, dentro da prosa, a poesia. A poesia é caos, é metáfora que, faz o que Campbell fala tanto, um retorno ao mito, sem no entando nos obrigar a trabalhar dentro de um frame.
A inspiração, porém, é algo que para mim, é misterioso. Quem vai advinhar que uma história sai de um gole de suco de laranja? No fim das contas, tudo, quando se quer, inspira. E não há muito o que entender, é mais querer mesmo. Eu quero escrever um texto hoje. Eu escrevo um texto hoje. E aí você diz "eu não sei escrever", "eu não sei sobre o que escrever", "eu estou travado". E eu digo que você está mentindo para si mesmo. Se você fala, se você cogita, se você deseja, ama, ou odeia, você escreve. Porque todo ato, por mais mundano, vem de umas inspiração. As musas somos nós, para nós mesmos, sempre. Não é preciso de drogas, não é preciso de um estado de graça, não é preciso uma particular inteligência ou sensibilidade. Só é preciso a vontade.
E escrever bem é algo que, se aprende com a prática. Eu tenho de concordar com os escritores, pensadores que re-afirmam que é muito mais transpiração que inspiração. Pois a inspiração não é um bicho de sete cabeças. Se você deixar, ela vem. Mas vem MESMO. Basta você se abrir, basta deixar sua mente descomportada. Alguém em estado normal vê em uma pessoa que sobe num ônibus, uma gazela hipocondríaca? Não, claro que não. Mas todo mundo pode ver, ou ver outras coisas. Basta se retirar da ordem, viver em estado de discórdia. E praticar esse pensar. E daí, ter o desejo de escrever. E escrever, escrever, escrever. Ir apurando o texto, mudando, ter a coragem de mudar de estilo. Acho que isso funciona. Acho que tenho, devagar, devagarinho, melhorado. E não vejo em nada disso, segredo.
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