May 23, 2012

Esqueletos


A nave desceu no meio da praça. Ninguém a saudou.
- Tarde demais.
Diz o homem mais alto.
- Você acha?
Diz o branco, com um sorriso sardônico desabando pelos lábios finos.
- Sim. Olhe as ruas. Nada.
A cidade está deserta. E eles sabiam disso. Suas investigações, porém, não tinha o mesmo resultado que a visceral visita a um planeta túmulo.
- É difícil de acreditar.
- É, eu sei. Me senti assim na primeira vez.
Os homens seguem as ruas principais e ignoram o silêncio, ou tentam.
Olhando para dentro das casas, apenas equeletos respondem nossa atenção.
- Eles tem algo em comum?
- Não, não que eu perceba.
- Olhe esse.
O ossos se agarravam a um aparelho, que por sua vez, parecia amaranhado aos ossos.
- Acha que podemos...?
- Temos tempo?
- 20 minutos.
O homem alto se agacha e pega o aparelho.
Ele volta a vida, se agarra a seu braço, lhe penetra a pele e logo sua expressão muda.
O outro corre e pega um aparelho similar, que tem a mesma reação.

A nave desce ao lado da outra. Ninguém a saúda.
Dois um homem e uma mulher descem. Armas em punho.
Não andam muito e veem os homens no chão.
- Estão vivos?
O sol avermelhado banhando sua pele cinzenta e seus cabelos brancos, tornando-a ruiva.
- Duvido.
O homem olha intensamento para ambos os seus colegas e faz um sinal negativo com a cabeça.
- Tem como saber o que é isso agarrado em seus braços?
- Não, não aqui. Minha capacidade de processamento é limitada.
- Monitore meus sinais vitais.
A mulher arranca do braço de um dos homens, um dos aparelhos.
Ela imita a reação dele.

- Lillia.
Ela abre os olhos, vê o andróide. Ele segura o aparelho, ainda pingando sangue.
Ela o ataca, mas sente-se fraca e cai no chão.
- Lillia?
- O que houve?
- Você esteve ligada ao aparelho por 29 horas.
- Tudo isso? Nenhuma alerta, nada? Porque você esperou tanto para me desconectar?
- O aparelho se ligou diretamente a seu sistema nervoso. Após demonstrar sinais negativos, duas horas atrás, essa unidade começou a engendrar maneiras de lhe trazer de volta.
- Demorei 27 horas sem qualquer perda de sinais vitais?
- Não apenas isso. Você estav ótima, pelo que essa unidade pode observar, a experiência foi extremamente prazeirosa.
Ela se lembrava de pouco, mas o que lembrava, lhe trazia arrepios.
- Prazeirosa?
- Sim. Quer que lhe envie os registros para sua unidade interna?
- Sim, mas não agora.
Ela olhou em volta, vendo, através das paredes invisíveis de sua nave, os esqueletos.
- Todos no planeta morreram dessa forma?
- Sim.
- Tempo de contágio do consumo?
- Pelos registros que resistiram ao tempo, me parece que todos se conectaram ao jogo em menos de 24 horas de lançado.
- Hum hum.
- Lillia, pode descrever sua experiência para registro?
- Agora?
- Sim. De acordo com o relatório de...
- Está bem, está bem...o jogo transfere sua consciência para uma sociedade parecida com a nossa, onde tecnologia torna-se intrínseca, sem no entanto nos incapacitar culturalmente.
- "O Último Estágio"...
- Sim.

- Conjectura? - Eles estavam capacidados a realizar sua evolução social, mas falharam por...por um último consumo.
- Essa unidade corrobora com sua análise.
- Vamos, Zeilu. Quero sair daqui.
A nave deixa a órbita do planeta e chega até a nave mãe onde se aglutina.
Os esqueletos, Lillia observa, são deixados lá.
Marcas de um mundo como tantos outros.
Vítimas de escolhas, não tecnológicas, mas sociais, humanas.
Como tantas outras.

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