May 10, 2012
Felara, a Taurina
Ela olha para a cidade queimando. Dois dias atrás foi chamada para realizar um projeto na Cidade dos Rios. Duvida que será paga.
Felara desce do cavalo e olha para os arianos que a acompanham. São três, dois homens e uma mulher. Bem pabgos, mas querem sair correndo dali agora mesmo.
Não querem fugir, claro, querem ir para a cidade, lutar e vencer ou morrer lutando. A tensão na face de um deles é ridícula.
Ela usa uma luneta e vê a destruição de perto. Pouco restou. Quem teria atacado sem declarar guerra? Que outra cidade-estado? Ou um dos pequenos não-confederados? O Estado de Báia? O Grande Norte? A Cidade dos Rios queima sem resposta.
"Bem, não há muito o que fazer aqui...o que é aquilo? Gravs?", ela pensa, observando o antigrav cair do céu, com gente caindo da borda, alguns em armadura, outros, nus, marcados com o caneiro ariano.
Ela olha fascinada. A mais horrenda e bela visão que já vira. Quando a nave bate, o solo treme. O cheiro é forte: óleo queimado, ozônio...jatos de luz passam vindo de onde a nave caiu. Aind há luta.
- Vamos!
- Senhora, com todo respeito, mas nós podemos ir, a senhora não.
O ariano olha sério para ela, já com sua arma preparada. Ela não está intimidada, nem tem medo. Arianos nem sempre foram os únicos a provarem da guerra, apenas são melhores nisso que qualquer outro.
Ela gira o cavalo e o deixa galopar, com força, rápido, na direção da queda. Não há o que fazer, pessoas podem precisar de sua ajuda e ela quer ver de perto, mesmo se arriscando, a cara do inimigo, os responsáveis pelo cancelamento abrupto de seu contrato.
logo ela enxerga o antigrav, que queima e serve também de paalco para uma batalha. Como vermes caindo de fora de uma carcaça, os arianos ainda saem de dentro do veículo. Alguns, visivelmente além de qualquer ajuda.
Contrato ou não, os arianos que estavam com ela partiram em direção a nave. De cima dos cavalos, disparavam jatos de luz e fogo contra os homens em armaduras. Eles não entediam, mas fazia pouco efeito.
Felara percebeu que as armadura difundiam a luz e absorviam o calor. Não é de se espantar que a cidade caira. O arianos ainda não faziam ideia de que suas armas eram quase inúteis, pouco fazendo contra seus inimigos. Ou eram teimosos demais para deixar de tentar enfrentar os monstros com lanternas.
"Idiotas", ela pensou, mas sabia que, agora, pouco podia fazer.
Começou a ouvir as pequenas explosões e percebeu que eram armas de projéteis.
Ela desceu do cavalo pouco antes dele ser atingido e rolar abaixo em direção a nave e a cidade.
Encolhida entre a colina e a fumaça, ela estava indefesa. Balas passavam próximas a sua cabeça, assim como os disparnos de arianos. Ela ouviu os cavalos de seus companheiros relinchando e gritando, supondo o pior. E então, após alguns minutos em que a luta parecia estar acabando, ouviu um galope.
Ele surgiu em meio a fumaça. O cavalo, visivelmente aliviado por respirar novamente, estava arredio, mas ele o controlou como se já o conhecesse antes.
- Suba.
Ele disse, como se a situação só estivesse esperando por ele para estar sob controle.
Nu, machucado, ainda assim se mostrava autoritário o suficiente para lhe dar ordens.
Não precisa olhar para suas marcas para saber que era outro ariano.
E nem para o corpo na estranha armadura para saber que não era.
Amarrado ao cavalo, estava um dos homens que queimaram a cidade.
Apressada, subiu no cavalo. Sabia como eram impacientes, estes arianos.
- Meu nome é Silas. Você mora por aqui?
- Não. Sou Felara, engenheira.
- Paciência.
Ele cuspiu o nome e se pós a ir ao oeste.
Quando a noite chegou, eles ainda cavalgavam.
O cavalo parou, começou a pastar, e ela enfim percebeu que o ariano havia dormido.
Ela desceu e ele quase caiu do cavalo. Ela o segurou no último momento.
E sentiu sua febre. Silas queimava. Seu ferimento estava infeccionando.
Ela lhe deu água em lábios delirantes e tentou limpar seu ferimento.
Repartiu seu calor enquanto dormia, esperando que, quando o dia chegasse, estivessem ainda vivos.
- Acorde.
O ariano a olhava irritado.
- Vamos, temos de ir.
- O que houve?
- É dia, não sei onde estamos, e nenhum de nós ficou guardando o local. É sorte que estejamos vivos.
"Um obrigado seria bom...", pensa ela irritada, mas não discute.
- Eu sei onde estamos.
- Sabe?
- Sim. Para aquele lado, está a Ilha da Pedra. Distante, mas está.
- Bom. Você é taurina, certo?
- Sim.
- Bom. Não vou tentar lhe convencer a fazer o que bem entende. Não vou perder meu tempo. Preciso chegar até alguém com um comunicador, rádio ou fio. Faz tempo que não venho a Cidade dos Rios. Não conheço ninguém por aqui, não tenho contatos.
- Não sou daqui também, vinha fazer um trabalho...mas conheço alguém. Por isso falei da Ilha de Pedra.
- Vamos então?
- Vamos? Não. Eu não quero ter nada haver com isso. Eu tenho meu trabalho, já perdi quatro de meus cavalos, minha escolta, quase perdi minha vida! Vou ficar no caminho. E com meu cavalo.
- Está bem.
Eles seguem viagem, rumo ao norte.
Em silêncio.
A noite seguinte não é melhor. Silas por duas vezes quase caiu do cavalo durante o dia, quando a luz surge no céu, ele ferve.
- Mãe...
O ariano murmura. Ela o acalenta sim, como mãe. Lembrando do filho que deixou em Fortal. Roubado dela pela ordem. O menino, sagitariano, foi recolhido cedo pelo Zodíaco. Ela mergulhou em seu trabalho para não pensar nele. Bem sucedida, rica até, não via o filho a mais de 5 anos.
Ela sentia raiva da grosseria do ariano, mas não queria que morresse. Ele não era mal. Podia ter lhe deixado, roubado seu cavalo. Porém, continuavam juntos. Ele chegou a dividir ração e pastilhas de purificação com ela, coisa que, ela sabia, tinham ordens de nunca fazer.
Na manhã seguinte, ela acorda só.
O ariano foi embora, deixou o cavalo, comida que consegui caçar a preparar enquanto ainda dormia.
Um grande lagarto negro. Teju.
Ela acende uma fogueira do jeito que ele mostrou ontem, minimizando a fumaça e come.
Pouco depois, ele volta.
- Pensei que tinha ido embora.
- Ainda preciso do cavalo.
- Entendo.
"Ariano estúpido...e o cavalo é meu." - E fui buscar ervas e água. Preciso de um chá ou não vou passar dessa noite. Ela notou como ele estava suado.
- Eu preparo para você.
- Obrigado.
Ele cochilou enquanto ela praparava o chá.
Eles vieram no começo da noite. Eram três.
Silas usou sua arma em um deles, sem grande efeito.
"Pelo Zodíaco, como é burro!", gritava para si em silêncio, enquanto o ariano, ainda febriu e ferido, pulava entre rocha e rocha e disparava continuamente contra a cabeça de um deles.
"Ele o está cegando..."
Silas salta uma última vez, e o esforço faz seu ferimento sangrar.
Logo, um outro vermelho se junta a paisagem, quando ele abre a armadura com as próprias mãos e arranca pele e carne do Antigo, lhe roubando a arma e o usando como escudo.
Felara perde o fôlego quando vê Silas disparando a arma de projéteis, matando os dois outros Antigos e por fim, caindo exausto.
Ela vê como ele está e se preocupa. Procura nas armaduras, que nota agora, são pouco mais que roupas refletoras, por medicamentos e comida. Acha pouca coisa.
Dorme novamente ao lado do ariano, mas antes, cauteriza sua ferida após fazer uma limpeza. É um risco, mas o material explosivo dos projéteis talvez seja melhor que madeira. Ou assim ela pensa.
Quando acorda, ele está a seu lado.
Ele dá um sorriso fraco, mas ela nota, não está mais febril.
- Obrigado.
Ele diz e dorme de novo.
Ela gosta dele.
E decide ir embora.
Deixa o que recolheu dos homens, faz um mapa grosseiro e escreve no pouco papel que tem e parte.
Ela quer viver. Ver seu filho de novo.
E ele, ele é guerra, e destruição, não o sorriso fraco e carinhoso que deu a pouco.
Ele não é amor.
E parte.
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