May 12, 2012
Pinças
A ocupação na Ilha da Pedra do Mar, começou pouco depois da queda da Cidade dos Rios.
Joras temia, não por si, mas pelos seus filhos.
Iulam tinha quase 18, é um ariano.
Passava alguns dias na casa do pai antes de seguir em viagem, procurando algum empregador.
Ghelem é uma leonina. Mandona, a menina de 12 anos era uma das melhores em sua classe e já se mostrava uma excelente debatedora.
A ocupação, porém, ocorre sem grandes incidentes.
Não molestam as pessoas e apenas parecem curiosos.
A estação de rádio foi sim, invadida.
Os guardas, mortos.
O governador, teve o mesmo fim.
Mas Joras não teve qualquer percalço.
Até a noite do sétimo dia.
Joras foi acordado por um som na sala. Algo caiu no chão. Seus filhos, ele imaginava, estavam dormindo.
Preocupado, pegou seu bisturi e tateou as paredes no escuro.
Na sala, antes que pudesse aproveitar-se da luz que entrava pela porta, foi derrubado e rendido.
De imediato reconheceu o cheiro de sangue.
- Meus filhos! Não machuque meus filhos!
- Doutor, não viemos lhe fazer mal.
A voz era forte e segura, mas falava baixo. E não estava só.
- Feche a porta e me deixe acender uma vela.
O homem fez isso e pode ver o estado de ambos.
Sujos, feridos. Um deles não iria sobreviver se ele não o tratasse de imediato.
Ele puxou o homem menor para uma maca e o ariano fez menção de ajudar, mas ele fez que não com a cabeça.
- Eu cuido dele. Vá na cozinha e pegue algo para comer. Se quiser, vá ao banheiro se lavar.
- Quem são eles, pai?
Iulam. Joras preferia que o filho não tivesse acordado.
Um menino ainda, apesar dos implantes. Sonolento, sua arma mirava o estranho.
O ariano olhou Iulam com tal desdém que o garoto abaixou sua arma, rosto vermelho e envergonhado.
- Diga a sua irmã para ficar no quarto. Tenho certeza que ela também acordou. Depois volte e esquente a água, preciso cuidar desses estranhos antes que o dia chegue.
Ele ainda tinha espranças de livrar-se dos estranhos, proteger sua família e se manter em segurança.
Vãs esperanças.
Morein, o geminiano, levou vários tiros. Não pode ser levado de sua casa e acabou abrigando os estranhos muito além do que gostaria.
E seu filho...Iulam estava impressionado com Silas. Imitava o ariano em tudo, em nos poucos dias, quatro, sem contar a noite em que chegaram, parecia se tornar cada vez uma sombra do guerreiro.
- Preciso que vão embora.
- Não desejo outra coisa, Joras.
O ariano o tratava de maneira pessoal e isso o incomodava. Não era culpa deles a situação em que estava. Porém, sentia que precisava proteger sua família.
Tornar-se amigo de Silas ia contra seus interesses.
- Morein pode ficar, Silas.
- Eu preciso dele.
- Nâo, não precisa. Conversei com ele. Ele lhe fará um mapa e lhe dará as instruções necessárias.
- Está bem, mas vou conversar eu mesmo com ele.
Silas esperou pacientemente que Morein despertasse e o interrogou. Satisfeito, veio falar comigo.
- Seu filho quer ir comigo, sabe disso, não?
Sabia sim. Era seu maior medo. Como ariano, Silas tinha o direito de recrutar o menino como aprendiz que não tinha 20 verões ainda.
- Eu o mato. Silas olhou para mim com o mesmo desdém que dispensou para Iulam, mas eu não desviei meu olhar.
Arianos morrem como qualquer um de nós. Ou pelo menos era isso que pensava enquanto sustentava aquele olhar.
Será que Iulam um dia terá olhos assim, mortos, cruéis, capazes de desvelar nossa alma e nossos medos?
- Eu lhe sou grato, Joras. Não vou levar seu filho.
- Então vá. Vá antes que ele desperte e lhe siga como um cachorro.
Como conter meu ódio? Como não ter raiva de alguém que meu filho parecia querer que fosse seu pai?
Silas recolheu alguns poucos pertences, comida, água, o mapa e partiu.
Iulam acordou pouco minutos depois.
- Você o mandou embora.
A acusação tinha mais verdade do que ele gostaria de ouvir.
- Sim. - Eu vou atrás dele.
- Não, Iulam. Preciso de você, filho. Eu e sua irmã também.
O garoto esmurrou a parede mas voltou para seu quarto. Fiquei aliviado e secretamente, feliz.
Dois dias depois os guardas invadiram a casa. Mataram Morein.
Iulam os atacou e segurei seus cabelos ruivos misturados ao sangue e areia que os soldados trouxeram em suas botas.
Cabelos tão ruivos quanto os meus.
Meu filho estava morto.
Os olhos azuis que herdou da mãe se fecharam.
Um menino.
Apenas um menino.
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