May 26, 2012
Vaso
A paralisia toma conta.
Seu corpo, mente. Nada se mexe.
Seus olhos param de mover-se e fixam um único ponto a sua frente.
- Blopts, dufotslz!
Ele não entendia.
Quando ele entrou na casa, não esperava qualquer resistência.
"Não tem ninguém morando lá, Luciano", já dizia Batista.
E continuava: "É só mesmo uma velhinha, acho, e deve ter o que roubar, entra lá uma noite desses e me dá uma parte das coisas e ficamos de boa, beleza?".
Não, não era beleza. Luciano não era ladrão de dividir nada.
Então não pensou em chamar alguém, ou avisar alguém, ou mesmo deixar um bilhete avisando sobre o que iria fazer.
Ele foi e fez.
Pulou o muro e invadiu pela porta dos fundos.
Não havia nada interessante na cozinha. Nem mesmo muita comida.
Na escuridão, tatou pela sala também sem nada que quisesse.
Resolveu subir e começou a andar pelas escadas.
Foi onde achou o casulo.
Ele sentiu o tecido e pensou que era era uma manta, uma coberta, uma pilha de roupas.
E enviou a mão dentro.
Que não retornou vazia.
Sentindo a gosma e as coisas que lhe beliscavam, retirou com nojo, mas segurou o som de espanto.
Retirou da cabeça o lenço que usava para esconder a testa enorme e calvice, e tentou se limpar.
Logo percebeu o som.
Um escorrer. Burbulhar.
Inutilmente tentava limpar a mão, mas o máximo que conseguiu foi perder o lenço que grudou em seu braço.
O som estranho aumentava, logo a seu lado.
Assustado, tentou correr, mas tropeço na escada e caiu.
O cheiro ácido era tudo que sentia, queimava seu nariz e logo, sentiu a pele novamente beliscada.
Foi quando a paralisia começou.
A criatura a sua frente continuava a falar em língua estranha.
Luciano olhava e se desesperava. Queria sair dali, gritar.
A coisa, não era uma aranha. E se ele não fosse alguém totalmente abandonado por Deus, teria rezado por isso.
A coisa era humanóide. Mas era uma coisa.
Pares de olhos a mais, peluda demais, dentes...desntes demais.
Então, ele ouviu a voz.
- Sabia.
Batista.
Na sua voz, percebia que se contia para não rir.
Ele olhava para mim. A criatura, seja o que for, não o assustava. Muito.
- Conheceu minha amiga, Luciano?
Ele sorria enquanto parecia, mesmo no escuro, me inspecionar.
- Ela precisa de comida. Ela e sua ninhada.
Batista colocou a mão no chão e minúsculas versões da coisa subiram para seu braço.
Não pareciam outra coisa que não aranhas.
Minúsculas, brancas e com cheiro ácido.
Seu braço tornou-se branco, de tão corberto que estava.
Ele sorriu e agora percebi o quanto ele não era Batista.
Não o mesmo Batista que ele conhecia.
Ele tinha enlouquecido.
E seu braço pousava agora em seu peito, onde as pequenas-aranhas-coisa-do-inferno, já o beliscavam e corriam pelo seu corpo.
Não havia dor. Mas ele sentia cada um de seus passos.
Ele queria gritar, chorar, e não podia.
Queria morrer e não podia.
As coisas agora pareciam querer entrar nele.
Mais beliscões. E logo, começaram a lhe entrar pela boca entreaberta.
Correram pela sua roupa e lhe penetraram pelo ânus.
Não lhe pouparam o nariz e ouvidos.
E logo, umbigo, pênis e olhos.
O som da voz de Batista vinha abafado.
E ele já não via nada, tão coberto estava seu rosto com as coisas brancas.
Se enchia de horror e não conseguia pensar em nada.
Ele era comida e só isso.
Perdeu a consciência, e morreu, pouco depois que as coisas, finalmente, lhe estouraram os olhos para lhe comer por dentro.
O corpo de Luciano foi achado dias depois.
Estava no mercado.
Fazia compras.
Ele em nada mudara.
Sua face, sua voz, seu jeito.
Era o mesmo de sempre.
Mas a menina do caixa, quando o atendeu, teve um calafrio.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment