June 21, 2012

Exsomnis


Era fumaça. Não havia melhor previsão de tempo para um dia de trabalho. Eu morava, na época, junto ao porto espacial. Nâo gostava, mas em Exsomnis, preço e segurança são uma combinação estranha. Em outras palavras, o bairro de Santa Camélia era barato por conta dos porto espacial, que causava todo tipo de incômodo, que ia desde de ânsia de vômito até alergias diversas, porém as razões para tanto, espantavam da mesma forma a maior parte dos predadores da cidade.

Eu não sou natural daqui. Vim de outro planeta, que você certamente não conhece. Um local pacato. Mas eu queria conhecer o centro do universo e Exsomnis É esse centro, a despeito do que dizem em Centralis ou Garvarom. Então, eu não sabia muito sobre a cidade, apenas que visitantes que pretendiam ter moradia fixa no planeta, tinham o péssimo hábito de serem devorados em poucas semanas. Exceto no bairro de Santa Camélia e logo percebi que o responsável, era o porto espacial.

Ora, quem já viu um porto espacial, já viu todos, certo? Uma estação orbital, ligada por um elevador espacial. Bem, não em Exsomnis. Pode parecer antiquado, mas tudo parte de dentro de sua órbita. O que tornaria outros mundos absolutamente quebrados, em Exsomnis tem custos minúsculos. Aqui, afinal, nada opera como nos outros mundos. Esqueça astrofísica. O aeroporto de Exsomnis é operado por uma das grandes famílias. Não lembro agora qual delas, mas o importante é que as naves simplesmente ignoram a gravidade. Como eles fazem? Um isto de macânica quântica com antiga alquimia terrana e magia vampírica, se metade do que dizem é verdade. E a vizinhança cerra os dentes cada vez que uma nave parte.

Foi assim, com os dentes cerrados, que saí para trabalhar. Era um dia qualquer, ou eu achava. Só mais tarde é que percebi o quanto era diferente, e pela primeira vez me perguntei, seriamente, se queria morar ali.

Havia outro motivo para eu sair do meu undo e vir para Exsomnis: emprego. Meus talentos são muito procurados, mas são quase inúteis em um local onde há tão pouco tráfego. Aqui, gente como eu pode fazer uma fortuna em alguns anos. Basta sobreviver por tempo suficiente. Em um local como esse, tradutores e intérpretes valem seu peso em...em...bem, qualquer coisa que queiram.

Chegar no centro de Exsomnis é fácil. Não é longe do porto espacial e não há muitos gárgulas na região. Eles realmente atrapalham o trânsito em boa parte da cidade. Já aqui, não. O que incomoda são outras coisa, entre elas, o cheiro de sangue. O centro da cidade é cercado de matadores e o canal em forma de heptagrama constantemente exibe o escarlate fluxo e refluxo do sangue despejado. De acorco com meu chefe, é um dos pontos mais seguros da cidade. Não apenas a tecnologia e magia arcana funciona para garantir que isso seja um santuário, como os predadores da cidade se contentam com os próprios matadouros. Você se alimenta de sangue, morte, força vital ou carne? Ora, para que chegar no centro? Eles ficam sim, ali, alguns quilômetros de distância.

Uma vez perguntei a meu chefe se não incomodava algum membro das sete famílias. Ele me olhou com olhos injetados de sangue e mostrou seus caninos quando respondia com um sonoro e longo: "não". Eu nunca mais falei com ele sobre Os Sete, ou sobre política, que é absolutamente o mesmo assunto.

As primeiras horas do dia, foram como qualquer outro. Gente, ou o que se passa por gente, vindo de todo lugar, precisando de serviços de intérprete e tradução para resolver contratos, negociar produtos e serviços, Coisa simples. Após o almoço... bem, falando em almoço, aprendi a ignorar o que como e simplesmente comer, da última vez que perguntei passei dias sem sequer olhar para um restaurante e me alimentado de importados, enfim meu chefe me garantiu que canibalismo é estritamente proibido em Exsomnis e que tudo foi uma piada de mau gosto...e após o almoço as coisas ficaram um pouco...hummm...complicadas?

Eu nunca tive problemas em traduzir nada. Não lembro, mas desde bebê, como todo tradutor, já nasci falando a língua dos meus pais. Ou pelo menos falaria se fisiologicamente fosse possível. Afinal, nos sabemos o que eu as pessoas querem dizer, o que elas querem sentir. Para nós, é tão natural quanto é, para alguém da família dos Terebrare, atravessar uma parede.

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