June 06, 2012
Urgência
Ele olha para a nota mas não acredita. Já viu coisas assim em filmes, talvez em noticiários.
Eles querem dinheiro. Ele tem o dinheiro. Eles lhe dão um número. Ele não deve chamar a polícia ou matam sua filha.
Sua filha tem três anos. Três anos. Ele liga pra ex-esposa.
- Priscila...
- João! João! Eu ia te ligar! Eu ia te ligar!
- Controle-se. Me diga o que houve. Ou passe o telefone pra alguém.
- João, aqui é Gustavo. Tudo bem?
- Tudo bem? Você é retardado, Gustavo? Que houve com minha filha?
- Dois carros fecharam o carro de Priscila, homens armados levaram Daniela.
- O que disseram?
- Só que se a gente ligar para a polícia, ela morre.
- Vocês ligaram?
- Estávamos conversando sobre isso.
- Sem mim, seu filho da puta? É MINHA FILHA!
- E de Priscila também, João!
- Se você ameaçar a vida de minha filha, eu te mato.
Eles só entraram em contato ele. As coisas podem ainda dar certo.
Ele liga. Os raptores atendem. Ele houve a voz da menina. "Pai! Pai! Tô com medo! Pai!".
A soma é enorme, mas ele tem esse dinheiro. Ele tem esse dinheiro. Quem sabe quanto dinheiro ele tem?
Ele vai ao banco, saca o dinheiro.
Coloca uma arma no porta luvas. Outra, menor, no bolso do paletó.
Eles ligam.
Marcam em uma praça. Dizem para ele ir a pé. Ele deixa o carro e coloca a outra arma nas calças.
Ele liga pra polícia. Explica onde é a troca. Sabe que não podem chegar a tempo.
E vai.
Anda apressado.
O sol quente e o terno, não fazem uma agradável combinação.
Ele chega suado na praça.
Senta no banco indicado.
Dois homens se aproximam.
Cada um senta-se de um dos seus lados.
- Cadê o dinheiro?
- Na bolsa.
- Minha filha?
- A gente deixa ela na tua casa.
- Não foi o combinado.
- Não, não foi.
Eles abrem a bolsa, contam o dinheiro e se levantam, lhe dando as costas.
Ele encosta o .32 nas costas do mais calado deles e dá três tiros.
- CADÊ MINHA FILHA, PORRA!!!
O segundo larga o dinheiro e pensa em correr. Mas olha o colega e fica parado.
Ele urina ali mesmo, em pé, quando olha para o rosto de João.
João puxa a outra arma arma. Pergunta de novo, e o homem se escancara.
Nâo há mais filha.
João não entende.
Mas chega a conclusão que não precisa entender.
Ele deixa ele falar o falar o resto.
Agora ele entende. Gustavo.
Descarrega o resto do revólver e corre para a avenida, pegando um táxi.
O motorista não viu o que aconteceu. Ele diz que também não viu.
Entra na rua onde morava a filha, desce do carro.
Fala com o porteiro e no elevador, recarrega o revólver.
Ele chega no apartamento de Priscila.
Ela abre a porta.
- Cadê Gustavo?
- Ele está no banheiro. João, o que a gente vai fazer.
- Eu preciso falar com Gustavo, Priscila.
- João, você está me assustando. Que cara é essa? O que houve?
- Nâo chore. Saia. Vá pra casa de sua mãe, agora. Temos de resolver isso. Depois você volta? Vá AGORA.
Ela sai assustada, mas obedece.
- Priscila? Quem está aí?
- Sou eu, Gustavo.
Ele olha intrigado.
- Você não ia entregar o dinheiro?
Ele não precisava de nenhuma confirmação.
Gustavo só percebeu um segundo tarde demais.
Patético, morde o lábio. Levanta as mãos.
João também. Com as armas. E ele as descarrega.
Ele sente os efeitos do tiro na vizinhança pacata.
Silêncio. Gritos. Postas dos vizinhos abrindo.
Anda, porém, alheio a tudo isso.
Vai ao quarto da filha.
Olha seus brinquedos.
Senta, escostado a sua cama.
Carrega uma bala.
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