September 28, 2012
Dependências
Ele fez um puxadinho.
Sua casa, que já era grande, espichou-se entre os muros.
O cão, um grande dálmata que ele chamava de Pintado, não gostou.
Sua mulher sorria.
Eles já tinha bastante espaço, a gratuidade em expostos dentes tinha outra razão.
O dinheiro.
A mulher sonhava com a Disney.
Beirando os 40, Lúcia só falava nisso. Sempre sonhou com essa viagem e era, como dizia para o marido, seu último desejo.
Ele bem sabia, desejos não se cultivavam em sua horta.
Mas talvez, quem sabe, depois da Disney, Lúcia pensaria menos no fim e poderia voltar a viver um pouco no meio.
E, pensando no tesão sem solução, coloca a placa de aluga-se e espera.
Mônica veio do interior.
"Sou estudante, mas meus pais não vão atrasar o pagamento", ela disse.
Ele confio nela. A esposa também.
O pagamento adiantado, de três meses de aluguel do novo quarto, teve alguma coisa haver com isso. Claro.
E ela logo estava familiarizada com a rotina do casal e eles com a dela.
Até mesmo o cão, afoito, brabo, que já atacara o dono uma vez, parecia calmo junto dela.
Ele já sonhava também com a Disney, colecionando promoções de jornais e anúncios de agências de turismo.
Mas nem tudo são rosas. Bonita, logo arranjou namorado.
Lúcia não gostou. Ele, que também não havia gostado, foi falar com ela.
Mônica não havia perdido tempo em decorar o quarto, e quando foi falar com ela, ela estava olhando para a estante de livros, da pequena escrivaninha onde sentava para estudar e esculpir. Ela estudava arte.
A conversa foi rápida. Encabulado, ele explicou que nem ele nem Lúcia, gostariam que ela recebesse visitas de namorados ali.
Ela disse que entendeu e tudo estava bem.
Na noite seguinte, porém, lá estava ele de novo.
Lúcia o olhava por cima do jornal e o instruía com os olhos. Ele a ignorava.
Até que ouvi os gritos.
E os latidos.
E outros gritos.
Quando saiu, Pintado estava com um trapo na boca, o portão aberto e Mônica, com a boca machucada, chorando no chão.
Ele a levou para o quarto e tratou do machucado.
Ela não queria dar queixa. Gostava dele. Falou do problema de drogas do namorado. Sentia pena.
Ele não conseguia deixa de notar a saia meio rasgada, bem visível, sua calcinha.
Perguntou se ela queria mais alguma coisa, que para ele, não se fechava em sentido único.
Ela disse que não, e ele viu, Pintado, entrando no quarto.
Ele a protegeu e ela também sabia disso.
Ouvindo os gritos de Lúcia que chamavam por ele, foi embora.
Mas antes de dormir, levou Mônica para o chuveiro, mesmo sem ela estar lá.
Ela não teve mais namorados.
Seu tesão por ela, porém, só teve aumentos.
Tinha, porém, medo.
Não que nunca tivesse traído Lúcia antes.
Seus escrúpulos sobre o assunto eram vagos ou nulos.
Afinal, não conhecia homem que não tivesse traído namorada, noiva, esposa ou até mesmo namorada, noiva E esposa.
Mas as circunstâncias não lhe ajudavam.
Todos estavam em casa no mesmo horário.
Então, uma dessas noites, Lúcia reclamou.
Ouviu a Mônica conversando com alguém.
Quem?
Ele não sabia. Ela não tinha amigas ou namorado que a visitassem.
Quem a estaria visitando? Com quem ela falava?
Ele não queria falar de novo com ela sobre o mesmo assunto.
E Lúcia se recusava: "O homem da casa é você", dizia ela.
"Deixe a menina namorar um pouquinho", ele diz, encerrando o assunto.
Ou assim pensou.
Mas Lúcia - e Mônica - insistiram, e dias depois, se viu obrigado a sair da casa para o jardim, e andar pelo espaço entre a casa e o mudo, um pequeno corredor, que levava ao quarto de Mônica.
Odiava ter de fazer isso. Queria que Mônica o visse, não como uma figura de autoridade, mas como um amigo.
Imaginava que, assim, teria mais chances se uma oportunidade surgisse.
Era verão e seu suor molhava sua camisa, mesmo durante a noite.
"Não deveria ter feito muros tão altos", pensou.
E deixou de se preocupar com muros e calor, quando escutou o som que vinha dos fundos da casa.
Lúcia estava certa.
Naquele instante ele escutava Mônica grunhindo, dando pequenos gritinhos.
Excitado, se aproximou em silêncio.
A porta, ele viu, está entreaberta.
Tremendo de tesão, entrou no quarto, esperando ver Mônica com um novo namorado.
Ele não podia estar mais enganado.
O que viu, o esmagou.
E envergonhado, percebeu, estava ainda mais excitado.
De quatro, sobre a cama, Mônica era penetrada pelo cão.
Ele via sua face por um espelho de parede, quando ela gozou junto com o animal.
Descontrolado, louco de tesão e ciúme, ele empurrou o cão e abaixou a bermuda.
Sem entender, assustada, ela mal reagiu antes do assalto.
Ele a segurou pelos quadris e se forçou dentro dela, que agora ja tentava empurrá-lo, chutando e gritando, e finalmente, acertando uma cotovelada em sua boca.
Só pensava em comer a mulher, e violento, pega uma estatueta que ela estava esculpindo e bate em sua cabeça.
O sangue dela o despertou, lhe causando um novo choque.
"O que eu fiz...?", se perguntou apavorado.
E ele viu Pintado.
De Mônica, nada se sabe. Ela foi embora, ainda antes do sol nascer.
Lúcia, afinal, foi para Disney, com o dinheiro deixado pela pensão do marido.
E ela sabe que, quando voltar ao Brasil, sentirá saudades. Afinal, a menina lhe levou o cachorro.
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