No mar de Dvorak, infinitos tic tacs.
No Mar de Dvorak, infinitos tic tacs...
Infinitos, tic tacs, no mar...de Dvorak.
[A minha consciência corrói o tempo do espaço,
que desliza sem descanso em coincidências quânticas.
E acordo, sem medo ou apelo, do outro lado.]
O processado já parecia consolidado. Já viajara antes. Era o nosso teleporte, no qual nada se teleportava. Uma reescrever contínuo do universo, que parecia ser feito para ser usado pela humanidade como bem entendesse.
Usaram pela primeira vez para chegar a Próxima Centauri. Era necessário? Sim. Por mais estranho que pareça, é mais fácil um homem ser jogado, trocado por um outro, idêntico, em outro universo, do que sobreviver a viagens próximas a luz. O processo não é instantâneo e esse lapso de tempo, é necessário. É o momento em que se atinge a velocidade próxima da luz e o momento logo a seguir, em que a aceleração e o banho de raios gama, não o mata.
O processado, como já disse, parecia consolidado. Já faziam isso durante gerações.
(Mas ele...Ricardo, Jonatan, Mauríciu, Pedro, Leandro, não sei, nomes não importam tanto....)
Já haviam (os humanos) viajado assim, milhares de vezes, entre as estrelas e agora, entre planetas.
Quando recebeu instruções da empresa (ele, o humano) em que trabalhava, para fazer a viagem, não pensou duas vezes. Foi fazer sua viagem. A margem de erro, era coisa de 0,00000000000000000001%.
O processo, conjectura, desde seu princípio, que há várias realidades paralelas e em cada uma delas, estariam realizando o mesmo experimento. Ele iria deslizar, de corpo e alma, pela Ilha de Instabilidade atômica, cercada pelo mar quântico de Dvorak. No fim da viagem, o seu eu, outro, de uma dimensão idêntica, o substituiria aqui e ele, lá, onde, para todos os fins, não era um universo outro, mas o mesmo, já que tudo seria idêntico.
Ele foi até a máquina que o sedava. E logo, chegava ao seu destino. Era assim, algo que parecia preceder o instantâneo. Ele fez a passagem. Ele havia sobrevivido mais uma vez. Não acordou no inferno, nem em algum lugar onde respiravam mercúrio. Nem qualquer outro dos absurdos que falavam sobre a viagem. Era apenas mais uma técnica. Não é como se a explosão combustiva de um automóvel, explodisse metade da terra.
E assim, despreocupado, não nota que a cor do cabelo da atendente, mudou, ligeiramente, de cor. A margem de erro, como disse, é muito, muito pequena.
Mas há.
E ele descansou antes do próximo salto, vendo um filme que vira na infância. Ele não notou nada extraordinariamente estranho. Afinal, o mundo muda. Ele não notou que a logomarca da revista que lia, havia mudado um pouco, uma fonte levemente diferente, talvez, outra cor.
E novamente, ele viajou. Foi jogado no mar, passou na ilha. E desperta em outra dimensão que não a sua. Afinal, quando se viaja, nunca se volta para o mesmo lugar, nesse caso, é até mais verdadeiro que em outras circunstâncias, no qual o mundo nem é mais mundo, mas um lugar que nunca lhe existiu antes, mesmo sendo apenas 0,00000000000000000001%. diferente.
Ele é acordado pela atendente, que exibe os mesmos sinais de despertar, um brilho de sono, um torpor controlado e um sorriso profissional. Ela agora tem o mesmo cabelo da outra, a mulher que deixou na dimensão que era sua (ou não, já que viajara antes, incontáveis vezes). Ele não nota que o perfume da moça mudou enquanto ela o leva para a sala de descanso, enquanto o a nave vai em velocidade subluminosa.
As mudanças se acentuam. Mas como saber que em algum país, agora, se fala em vez de português, javanês? E despreocupado, viaja. Depois de mais um salto, pelo espaço de inexistência onde tudo há, ele ressurge e é atendido. A moça sorri e lhe oferece comida. Eles mastiga as balas de gosto estranho, diferentes das que conhece. Ele acha que é apenas o efeito do sedativo e não liga.
Há outro salto. O último até o planeta onde precisa chegar. Quando acorda, não há atendente. A porta, ele nota, não tem mais nenhuma forma de ser aberta por dentro. Ele está preso. Um homem abre a porta e não é sequer um homem. A criatura está feliz. Ela o carrega a força, o cheiro do matadouro lhe deixa tonto. O vasto abismo a frente, onde corpos são atirados para os seres com longas facas e braseiros, o nauseia.
Olhando para trás, vê outras portas de onde outros homens e mulheres são carregados contra sua vontade. Afinal, Jorge, Márcio, Lucas...não importa o nome, agora é só um tic tac. Um entre infinitos, perdidos num mar de zeros, devorados em dimensões de certeira fome, onde a comida deles se materializa do ar.
Uma pequena margem de erro, que desliza e vai, assim como ele, para baixo...
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