November 04, 2012
Disfunção Global de Desenvolvimento
Ela olha para a criança e pela janela.
A neve não cai.
Os outros meninos brincam, distantes, isolados.
O menino olha também, procurando o mundo.
Suas mãos se tocam, mas ele não sente, não como sentimos.
Longe dela, ele tateia.
Entre as nuvens de desejos e saberes, navegando correntes de incerteza, ele vê o mundo.
Um mundo sensível, em que ele toca com a mão, que não sente como sentimos.
Ela se preocupa.
A neve não cai.
É o segundo ano em que isso vai acontecer.
Depois de tudo que passaram, de que adianta ensinar crianças, quando o mundo vai acabar?
Ele lê a tristeza próxima. Não há palavras que descrevam as emanações da alma.
Sem entender, ele compreende.
E do alto do céu, vai ainda mais longe.
Ela se senta ao lado do menino e reza.
Não para Deus. Ele não existe. Não para ela.
Os olhos marejam, mas a professora se levanta e chama as crianças para seus lugares.
Ela não quer acreditar que o mundo acabou.
E ele, sendo conduzido por mãos de amor, mexe as nuvens com os dedos.
Ele vê os projetos e as promessas, como o mundo mudou.
As tempestades, os desertos, o metal distendido por quilômetros.
Ele não tem nome para geo-engenharia, não sabe porque falharam os projetos.
Ninguém sabe.
Talvez, só talvez, esperassem o toque de uma criança...
Por trás da janela, começa a chover.
Uma neve falsa, uma neve real.
E a professora chora, enquanto abraça o menino, que do alto de sua incompreensão, sorri.
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