June 19, 2021
Pérola
Pai e filho saíram para caçar. Passaram dias entre as árvores de copas altas. Durante esse tempo, comiam animais pequenos, frutas, nozes, cogumelos. Era uma aventura ao paladar, mesmo que sem refinamento. Juntos, carregavam bolsas com pedaços de animais maiores de volta para a vila.
Caminhavam juntos, mas o garoto, distraído por um som de galho partido e farfalhar, se separa do pai por um minuto.
Um ninho. A árvore de onde caíra, ainda estremecia. Mas Lisandro não prestou atenção nisso. Ele só tinha olhos para a única sobrevivente.
Ela, parecia ter caído do ovo em seus mãos. Tão pequena, frágil!
Procurou seu pai na mesma hora, assustado e maravilhado com a coisinha em suas mãos.
O homem, mais velho, de barba cinza, notou o menino e fez gestos para que ele andasse em silêncio.
Lisandro, alerta, olhou para as árvores a sua volta e não viu nada, mas obedeceu ao pai.
O homem, experiente, não movia um músculo. Lisandro, porém, ouviu um som nítido, mas delicado como o desabrochar de flores, escapando dos lábios do pai.
"Um canto!", ele se viu pensando, espantado.
Só notou a mudança quando completa: ele e o pai, agora eram corpo de floresta, como se cascas de árvore, flores, folhas, e a terra rica, tivessem se esgueirado e os encoberto.
O pai não havia visto a pequena coruja, e ela continuava ali, como um pálido brilho nas mãos do menino.
Lisandro então notou o movimento. Constante, mas lento. Como uma enorme serpente, a coisa se movia pela folhagem.
Ela circundava os dois, percebendo que estavam lá, mas sem conseguir enxergar nenhum deles. O canto do pai os havia escondido.
Foi quando pérola,fez um pequeno, minúsculo som.
Lisandro só entendeu mais tarde o que aconteceu.
Em um instante, o Come-Come pulou sobre ele e a pequena coruja.
O pai, mal teve tempo de se jogar, o empurrando para longe.
O tronco do predador, era enorme, a ponto de, quando se atirou sobre Lisandro, destruir uma árvore que estava atrás do menino.
Os Come-Come, como a tribo os chamava, tinha ódio deles. Não sabiam o motivo, mas caçavam vorazmente, e pedra ou tronco, rio ou raio, nada sobrevivia a sua passagem.
O homem gritava com Lisandro, para que ele saísse do transe do medo e usasse também suas pernas para correr, o jogando no chão.
Colocando pérola em uma túvia, que não passava de uma caixinha com alças, em que ele costumava usar para colher amoras, se pôs a correr.
O pai parecia guiar seus pés com assovios, e não tardou, mandou Lisandro em uma direção, a da vila, enquanto ia para o centro da floresta, levando com ele o Come-Come.
Lisandro chegou cansado e sua mãe, ao lado de guardiões de ossos, nos portões de cristal da vila, o esperava.
Ele desabou nos braços dela, cansado e com medo.
Junto com ela, esperou pelo seu pai.
A noite não demorou. Os sons dos animais, plantas e rios, pareciam retornar depois do susto.
Estava com fome, mas não desgrudava os olhos da escuridão.
Quando seu pai finalmente chegou, sua mãe soltou um suspiro de alívio, como se, até ali, não tivesse respirado uma vez sequer.
O pai a abraçou de um lado e colocou a mãe na cabeça do menino.
- O que você tem aí? Perguntou, cansado, talvez ferido, apontando para a túvia.
Lisandro abriu a caixinha e os olhinhos da coruja olharam para o pai.
- Uma corujinha. Disse o menino tímido, por debaixo da constatação, uma pergunta implícita e que pais, ao longo de toda a história, em cada um dos 9 mundos, já escutou: "posso ficar com ela?"
- Que nome vai dar pra ela? Perguntou a mãe, já sabendo, pelo sorriso do pai, que não iria impedir o menino de cuidar da ave.
Lisandro olhou para ela por um momento e disparou: Pérola!
"Um nome de sorte", disse o pai, "afinal, ainda estamos vivos!".
Sorrindo, deixando os guardiões de ossos fecharem os portões, voltaram a seu casa para finalmente jantar. A última das residências na vila dos banidos.
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