August 04, 2013

N


Ela me pediu em namoro. Foi uma coisa meio... Desmasculinizante. Essa palavra existe? Bem, FIAT PALAVRUX, ou algo assim. Agora foi. E enfim, sabe do que mais? Gostei. Eu nunca ia tomar a iniciativa. Burned fingers and all that, right?
Ela me chamou para sair hoje. Mas como neandertal, vou ficar por aqui, pintando nas paredes da casa. O meu rupestre pós-moderno, com animais que brotam da rocha. Seguir o conselho de Duda: Se há vontade de arte ou sexo, esqueça o resto e se ponha a trabalhar com finco  (tinha um ar aqui, né? Cadê Ana quando preciso dela para revisar meus pensamentos?).
O dia lindo e eu aqui, praticando o assassínio de litros de cerveja e de indefesas azeitonas. Espere, pausa.
Talvez eu devesse jogar uma azeitona no vaso, fotografar. Uma ode transfigurada do desperdício da ebriedade. A urina é o princípio da sobriedade.
Volto a minha parede, aos meus pasteis. Lembro de Naboo enquanto pinto. Aquela cidade chupada de Gondor. Ou é o inverso? É um horror de fractais em que tudo significada nada e nada faz sempre muito sentido.
Niiiiii! Niiii!
Os cavaleiros gritam as minhas costas. Isso é tão nostálgico. Eu era um grande nerd. Agora sou apenas um nerd grande. E porque diabos ela quer namorar comigo?
Pouso o pincel um momento. Respiro no narguilé. Nada narcótico. Nada que me desequilibre. Só vodka. Respiro vodka, bebo cerveja. Melhor dieta ever. Quem nunca? Okay, okay... Eu sei que ela nunca.  
O celular toca. Deve ser minha mãe. Olho o celular com desconfiança. Um produto noiado dessa era, um neurótico nonsense. Já disse pra mama: never ligue pra mim domingo de manhã. Eu adoro trabalhar domingo de manhã. Pelo menos quando não estou ressacado. Trabalhar com ressaca? Nunca.
Cansei de Monty Python. O que está rolando no Superplayer.fm? Vamos lá... "Para acordar". Caixas no máximo, pq vizinho que escuta brega não é de Deus e eu sei que eles querem nana e estão de ressaca. Ha!
Diabos, essa música?
I'm up all night to get lucky
We're up all night 'til the sun
So... DAFT!
Devia escutar algo dos anos 80. Sabe? Quando eu ainda não parecia um navio russo da guerra fria, ainda em uso. E ela me pediu em namoro.
Peraí, que essa ninfa ta troncha. Vamos lá, mais folhas. Um crisântemo, um nenúfar. Isso. Uma parede florida. Mas eu quero mar também. Me enxaguar. Noelia grudava em mim nisso, no meu senso de culpa interminável, na minha timidez incomensurável. Que dia crônico. Tome mais Netuno. Com ou sem tridente? Como pinto o moço? Com ou sem pinto? Bem, é minha parede. basta meu pinto por aqui.
Ei, é isso! Não, não, pinto não. Núpcias! Essa indistinta barreira que se mescla, o verde e o azul, Netuno e a Ninfa. Diabos, essa parede vai ficar bonita.
Bonita é a boca dela. Foco. Foco. Vai dizer que não sabe mais namorar? Err... Acho que não. Essa coisa com Camila me entortou um pouco. Peraí, vou ouvir Tribalistas. Tem uma letra tão Dandy Warhols, não sou de ninguém, bababá. Mas sou muito old fashion. Monogamicus Sapiens, a seu dispor.
E relaxo. É sempre bom, quando nesse ponto, se chega, sabe? Os músculos relaxam, o pincel desliza mais fácil na parede. As cores ficam mais difusas e me permite experimentar mais.
Já fui tão experimentado. Nunca sofri com críticas, mas a constante mudança de freguesia, que muitos homens louvam, me entristece um pouco. Vai ver é que meus temas são tão gregos. Ainda não expurguei de mim um ideal romântico.
Falando em expurgo, tenho de maneirar na naftalina. E esse cheiro misturado com a vodka, dá um barato, viu?
Come on now sugar
Bring it on bring it on yeah
Os hipster é que estão certos. O mundo acabou, só restam eles contra os zumbis. Se bem que, dependendo deles, procriar que é bom, nada, né?
To muito emo, cadê o coldplay?
Juro, escuto, mas não sou gay.
Ei! Yellow! Esses caras são uns gênios mesmo. Muito verde, muito azul, precisava deixar quebrar mais mesmo. Ela está loira. Pense em mulheres que sempre me deram trabalho, essas loiras. Mais do que as ruiva, admito. E torce pelo náutico. É muito nhandu pra pouca mosca.
Não sinto mais meus dedos. Ummm, campainha.
- Ooolá?
- Guto?
- Oi?
- Guto, é você, tá me ouvindo?
- Amélia?
- É, eu, Amélia. Posso subir?
...
- Guto?
- Pode, pode! Claro que pode! Venha!
Okay, sem pânico. Sala, sala. Recolher garrafas, jogar roupas sujas na sexta. Banheiro? Tem papel?
Rápido! Garrafas demais aqui.
Noc Noc.
Holy fuck jesus in a donkey!
- Um minuto!
Visto a camisa ou não visto a camisa? Camisa, camisa, relaxe. 4, 5,7. 7? Que é isso? Não pense, RESPIRE.
- Oi, Amélia! Que surpresa.
- É, eu sou assim. tava passando por aqui e resolvi passar por aqui.
Me sinto como um navio a deriva. E a tempestade loira entra sim, me invade.
Definitivamente, desmasculinizante. Mas, sendo sério comigo mesmo, depois de tudo, eu saberia como chegar nela?
- Que coisa linda!
Claro, ela está falando do mural.
- O que é?
- Eu não sei bem, pra ser sincero.
- Tem mais?
- Humm... Tem, ainda estou terminando.
- Não. Cerveja.
E ela pisca. Em outros tempos, outros mundos (Valeu, Silverberg!), eu teria beijado ela ali, na agora, na lata, sem átmos entre nós, só o abraço, o correr dos dedos, o toque dos lábios, um agarrar firme.
Mas estou tremendo, parecendo quando namorei com Cláudia. She was awesome, btw.
- Sim, sim. Cerveja, vodka. Licor também.
- Domingo. Prefiro cerveja. Posso pegar?
- Claro, a geladeira é ali.
Minha cozinha está um CAOS. Sério. Éris foi quem fez a faxina.
E ela gira nos calcanhares, Bud em punho.
- Você abre?
- Claro.
Ela bebe um pouco. A cerveja é um glitter. Não consigo tirar os olhos dos lábios mais perfeitos que já vi.
Sim, "mais perfeitos". Ela quebrou meus padrões. Pode isso, Arnaldo?
Ela chega mais perto. Meu coração, só tum tum tum.
- E aí, pensou a respeito?
Sabe? É nesses momentos em que se separa os homens dos meninos. Ou pelo menos é o que me digo para me redimir. E aí me visto de Noturno e respondo bem Vin Diesel:
- Não. Mas me dá um beijo assim mesmo.
Enfim, domingo legal.




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