Vampiros do Oriente descrevia o extremo oriente do antigo Mundo das Trevas, apresentando os Kuei-Jin, os vampiros orientais, que são bem distintos de suas contrapartes ocidentais. A resenha é de Haroudo Xavier Filho e foi originalmente publicada no antigo portal em 12 de maio de 2003 (1.632 leituras). Confiram a seguir:
Vampiros do Oriente : KOE
Resumo: Vampiros do Oriente reúne o que há de melhor em Vampiro, Wraith e Lobisomem, e coloca tudo isso num ambiente consistente, sem estereotipar ou homogeneizar a cultura oriental.
Background
Vampiros do Oriente basicamente consiste na utilização de parte do mundo largamente deixado de lado pela WW até então: o extremo Oriente. Em Vampiros do Oriente, não apenas o Império do Meio é explorado para ampliar o jogo de Vampiro (vampiros ocidentais são chamados de Kin-Jin e orientais de Kuei-Jin), como também o de Lobisomem (Hegenkoya), Mago (Chin’ta) e mesmo Changeling (Hsien). Os Wraith também fazem parte disto, e é até fundamental, graças às religiões orientais darem uma referência especial aos mortos e ancestrais, mas com a linha sendo aniquilada pela WW, não é esperado uma exploração deles como tema, a não ser no mesmo patamar de Banes e outros espíritos.
Ele poderia mesmo ser uma linha separada dos outros jogos da WW, graças a sua complexidade e inovação ao gênero dos vampiros, e mesmo dos “personagens da WW”, mas a escolha dos editores foi criar um suplemento e assim você precisa do Vampiro, A Máscara para jogar.
Existe uma enorme gama de diferenças entre os Kin-Jin e Kuei-Jin, mas podem ser classificadas em quatro blocos principais: físicas, históricas, culturais e mesmo espirituais.
Fisicamente, um Kuei-Jin pouco difere de um Kin-jin a primeira vista. Ambos parecem com humanos. Mas um fator os distingue claramente: o Kuei-Jin utilizou Yin ou Yang Chi para se “ativar” naquela noite. Vampiros da Camarilla não pensam muito nisto, eles simplesmente levantam e pronto, é natural seu organismo consumir um ponto de sangue por noite. Os Kuei-Jin, por outro lado, não se alimentam de pontos de sangue e sim de “Chi”. Chi permeia tudo e humanos se alimentam de Chi quando comem, dormem, respiram… Mas após a morte e sua volta ao mundo dos vivos, os Kuei-jin não podem mais conseguir Chi assim. E o tipo de Chi a ser consumido, depende da disposição da vítima. Se aterrorizada, Yin Chi; se no meio de um ato sexual ou qualquer outro momento de euforia, Yang Chi. E a cada noite, Yin Chi ou Yang Chi, é usado para “energizar” o Kuei-Jin. Quando se utiliza de Yin Chi, ele têm um aspecto mais cadavérico, um pouco pior que os dos Kin-Jin, e bem próximo destes quando têm uma baixa humanidade. Quando usam Yang, eles ficam ativos, vivos, elétricos. Quase humanos.
Além disto, Kuei-jin não são normalmente estacados ou entram em torpor. E não têm naturalmente presas. Estas surgem quando este gasta Demon Chi. Um tipo de Chi surgido de seu P’o (veja abaixo). Eles também podem utilizá-lo para ter mais ações e se parece um pouco com o RAGE de Werewolf. Kuei-Jin herdam também características de Wraith, como Lifesight e Ghostsight. Suas disciplinas são diferentes e incompatíveis com as dos Kin-jin e, a propósito, vice-versa: nenhum vampiro ocidental pode aprender suas disciplinas. Eles não podem no entanto usar seu Chi para aumentar seus atributos físicos, a menos que tenham o conhecimento de alguma disciplina Shintai. E não se pode esquecer sua capacidade de beber e comer sem empecilhos e mesmo sua resistência maior ao sol.
Historicamente os Kuei-Jin nada têm haver com aquele fazendeiro homicida, na verdade sua história é mais rica e mesmo honrosa, pelo menos inicialmente… Eles são descendentes diretos dos Wan Xian, os “Mil Imortais”, trazidos de volta à vida para proteger os homens dos Yama Kings (grandes lordes demoníacos do Yomi, o inferno oriental, responsável por metade do mundo). Infelizmente os Wan Xian caíram em desgraça e foram amaldiçoados pelo paraíso a viverem do Chi de outros. Com o tempo, os Kuei-Jin apesar de amaldiçoados, formaram suas cortes, costumes próprios e continuaram com sua tarefa de olhar pelo paraíso, afinal eles haviam voltado a vida com um propósito.
Mas por estas mesmas razões históricas e também culturais, os Kuei-jin também são bem diferentes dos Kindred no que se refere às suas ideologias, e mesmo senso patriótico. Até hoje existem mesmo choques diretos entre os Kuei-Jin das cortes do Quincunx (China de uma forma geral), e do Japão, e mesmo das Cortes Douradas da Índia.
E como entender uma sociedade vampírica sem a necessidade da Máscara para permanecer incógnita, ou mesmo sem as eternas intrigas. Um Kuei-Jin não teme o povo, afinal no Oriente do Mundo das Trevas, existe uma certa “familiaridade” com tais criaturas e uma compreensão de sua paralela busca pela iluminação. Além do mais, muitos Kuei-Jin são vistos como protetores e mesmo não sendo abertamente nomeados, sua presença é reconhecida nas comunidades das quais eles participam. Além do mais, a sociedade altamente organizada dos Kuei-jin não permite membros por demais rebeldes e capazes de causar uma destruição grande o suficiente para chamar a atenção dos temíveis caçadores de vampiros, Shih.
Os Kuei-Jin não se organizam em clãs e coteries, e sim em um “Wu”, um grupo que, de acordo com as leis celestiais das cortes de sangue do Quincunx, deve ser formado por um membro de cada um dos cinco dharmas e cada um deve ter também uma direção. Sim, eles não têm clãs, eles compartilham do mesmo início, um entendido quando observada sua diferente aproximação da espiritualidade…
Um Kuei-Jin nunca é abraçado. Não é o sangue se Caim o responsável pela sua não-morte. Na verdade, diferente dos vampiros ocidentais, eles fazem parte do equilíbrio, e são cuspidos para fora da “Grande Roda” justamente para reforça-la e protegê-la. Os vampiros do oriente morrem literalmente. Parte de seu espírito, o Hun, fica guardando seu corpo, e outra parte, o P’o, vai para o Yomi. Eles passam então um período no Yomi, em um dos milhares de diferentes infernos e, graças a uma força de vontade extraordinária, voltam a seus corpos, normalmente já mortos à pelo menos um mês. Agora o Hun e P’o novamente unidos, o Kuei-Jin dá seu ‘segundo suspiro’, seu renascimento. O P’o é também o demônio interno do Kuei-jin, um equivalente ao Shadow dos Wraith.
Eles se vêem então novamente vivos e seus Dharmas (de modo geral, podem ser comparados aos Paths do Sabbat) lhes dão uma forma de redimirem a si mesmo, e fazerem novamente parte do grande ciclo. Eles apesar de amaldiçoados devem zelar pelo Reino do Meio, pois é esta sua tarefa sagrada. Nisso, eles chegam mesmo a ter um contato com os outros Shen (como eles chamam o conjunto de criaturas sobrenaturais), inclusive os Hegenkoya. Igualmente, os Shen do Império do Meio enxergam os Kin-jin com ódio e desconfiança, pois seu consumo e utilização de Chi, pouco têm haver com o equilíbrio e sua própria natureza não-morta é uma ofensa ao Paraíso.
O Jogador
Criar um Kuei-jin não é tão diferente em termos de mecânica se você já viu outros jogos da White Wolf. A maior diferença se encontra na parte conceitual. É necessário definir no entanto, como este viveu sua vida e ligar isso à forma e Yomi no qual ele teve sua passagem, e mesmo a seu atual Dharma e direção. Escolher também se a personagem pende para Yin ou Yang, ou mesmo um equilíbrio, é também importante, mas vêm naturalmente após a escolha do Dharma e direção. Um mestre menos exigente poderia mesmo não pedir tanto, mas é desaconselhável, afinal Vampiros do Oriente é um jogo no qual os princípios da personagem e sua espiritualidade estão em constante escrutínio.
A forma como este viveu vai não apenas moldar melhor seu caráter após o Segundo Suspiro, como definir melhor a natureza de seu P’o. Seu período no Yomi, o tipo de inferno no qual passou, é também adequado à sua vida anterior e parte permanente de seus pesadelos. Ajudará a entender a forma como tentará, através de seu Dharma, atingir a iluminação.
Os Dharma possíveis (existem mais no Kindred of the East: Companion, mas são considerados “heréticos”) são:
- How of the Devil Tiger (Devil-Tiger) – Acreditam na dor como aprendizado. Aceitam o fato de agora serem demônios, e por mandato celestial, eles têm a obrigação de caçar os pecadores, o mal, e exterminá-lo. São cruéis, mas usam da crueldade com a finalidade de ensinar algo.
- The Way of Resplendent Crane (Ice Guardian) – Esse Dharma vê o Segundo Suspiro como uma chance de redenção e ao mesmo tempo uma desonra. A Garça acredita na disciplina, honra e benevolência, como elementos capazes de levar à iluminação.
- The Song of the Shadow (Bone Flower) – Estudiosos, especialmente do mundo Yin (Shadowlands), Bone Flowers acreditam no autocontrole,assim como no estudo e preservação da ponte entre a vida e a morte como elementos fundamentais para a iluminação.
- The Path of Thousand Whispers (Rootless Tree) – Moderação e equilíbrio são temas recorrentes dos Kuei-Jin deste Dharma. Continuamente vivendo personalidades e identidades, numa encenação de reencarnação praticada periodicamente, eles acreditam no ganho de uma nova experiência a partir do momento em que enxergam a vida e o mundo de diversas formas, através de diversas vidas.
- The Dance of the Thrashing Dragon (Laughing Rainbow) – Viver a vida tão intensamente quanto possível é o mote deste Dharma. Ligados a espíritos do mundo de Yang (Umbra), como os Bone Flowers são ligados aos do mundo de Yin, Laughing Rainbows louvam a vida mesmo quando a consomem.
As direções complementam o Dharma. Elas são as funções designadas para os Kuei-jin através de um estudo de seu horóscopo. Às vezes um Kuei-Jin pode mesmo agir de forma diferente de sua direção, mas é difícil tornar-se de outra, é mesmo ainda mais comum mudar de Dharma. As direções são não apenas sua função na sociedade de vampiros, mas também sua função dentro de seu Wu.
Os do Norte são ligados à manutenção de tradições. Eles comumente julgam e avaliam os outros Kuei-Jin na forma como se portam em relação às leis e costumes da sociedade. O Leste é a direção dos Kuei-Jin ligados à sociedade mortal. Eles vigiam os humanos cuidadosamente e se misturam com mais facilidade, garantindo tanto a “comida” do grupo, como observando se os mortais estão bem e em segurança. Aqueles que são ligados à direção Sul, são os responsáveis por observarem e criticarem as tradições, por promoverem a mudança quando necessária. São os mais rebeldes (mas longe de serem semelhantes aos Brujah, qualquer um levemente “brujah” seria eliminado no período de treinamento de um ano antes do teste de Água e Fogo, uma passagem para a vida em sociedade e fazendo parte de um Wu). Oeste é a direção ligada ao mundo Yin (no qual os vampiros dessa direção mantêm estreitos laços, protegendo ancestrais, ouvindo sua súplicas), sendo eles os que carregam também a tarefa de cumprir as ordens de Madarins (Kuei-Jin de alto status), inclusive assassinatos. E por fim os Kuei-Jin de centro têm a tarefa de manter todos os outros juntos, ligando as várias direções e zelando pela sociedade imortal de uma forma geral.
Além disto há um pequeno grupo de novos Antecedentes, dos quais se destaca o “Nushi”, uma espécie de “Totem” do Wu. E disciplinas próprias e com uma característica de versatilidade incomum às disciplinas dos Kin-Jin.
Mestre de Jogo
Vampiros do Oriente é um livro elegante, cheio de informações e suficientemente bem organizado. Não há realmente nele aquele típico ar de “eles ainda precisam lançar um suplemento para eu entender isso direito”.
A despeito de algumas falhas menores, uma ou duas inconsistências no texto e informações sobre o funcionamento dos Kuei-Jin espalhados em três áreas do livro quando podiam estar concentrados em um só ponto, eles é bem prático e mesmo harmonioso.
As disciplinas são bem detalhadas, assim como a sociedade dos Kuei-Jin, sua história, suas diferenças diante dos vampiros ocidentais, etc. O Capítulo 6 (Middle Kingdom) e 8 (Rivals and Barbarians) são particularmente interessantes, bem escritos e dão uma boa concepção do quanto é vasto o universo.
Infelizmente o livro data de antes do Vampiro 3a Edição e não contém regras específicas das categorias de dano e outras que foram alteradas. Isso é apenas corrigido no Kindrede of the East: Companion, em um apêndice tratando justamente disto. Espero sinceramente uma nova edição tornando ele “stand-alone”, ou seja, independente do Vampiro.
Sistema
O mesmo de outros jogos da White Wolf, na verdade o próprio Vampiros do Oriente não vem com explicações sobre o sistema, ele se firma no ponto de ser apenas um suplemento de Vampiro. Mas os sistemas de uso de disciplina, demon chi, chi (Yin ou Yang), etc, são suficientemente detalhados e sem deixar margens de dúvidas.
Conclusão
Vampiros do Oriente é uma excelente adição para o Mundo das Trevas, ele não apenas expande o universo de Vampiro, como dos outros jogos também. Seus suplementos reúnem a mesma qualidade e elegância, tanto gráfica quanto informativa, tornando ainda maior o seu valor se comparado a outros produtos tão caça-níqueis da própria editora.
Nome: Vampiros do Oriente (Kindred of the East)
Autores: Justin Achilli, Phil Brucato, Jackie Cassada, Mark Cenczyk
Editora: White Wolf
Edição Analisada: 1st Ed. (Fev 98)
Número de Páginas: 220
ISBN: 1565042328
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