July 10, 2013

Branca


O trecho é de violento prateado.
Nada o apaga, para, ou o afugenta.
Que se curva, em flexível tensão.
O caminho que faz é visível para todos.
Uma marca do tempo, que parece marcar seus passos, que vibram seu corpo com as passadas duras, fortes.

Ela olha para eles.
Os mais jovens, os mais velhos.
Busca vontades, forças, só acha hábito.
O sol é de um dia que mal nasceu, e assim, revela melhor a dor, os sulcos.
A pele se estica, mas não cede.
Os pássaros caçoam, os peixes se escondem, o lagarto assente.
E todos seguem o mesmo cortejo, numa linha sem volta.
Minutos, horas, dias, desperdiçados na construção de um muro que falha, numa verdade que se parte com o calor dos anos.
Ela sua. Derrete. Cheira o gosto de lágrimas que sua pele chora.

O apartamento é seco.
A rua barulha próxima, sem trégua ou barreira.
Ela já não dorme. Que importa o som do mundo?
A água cai sem compaixão ou alívio.
É só água.
Só mais um gesto habitual, em uma relação infinita de ordinários dias.
No espelho, o fio de prata que desaba seu espírito.
A hora chega, tempo esmaga, enclausurada fica, na circunstância da vida, sem voltas, 100 voltas, 110 volts, ligada, tomada, olha pro outro lado.
Tão fácil, não?

A cama é vazia e enorme.
Um mundo ali, que parece nunca querer parir-se de existência, desaba na escuridão da noite, que simplesmente desdenha a luz dos sorrisos passados.
Ela se mexe, geme dormindo, acorda suada, no frio da aurora.
Mais um, morreu, se foi.
E o brilho metálico na cabeça, só avança.

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