August 06, 2013
P
- PUTA-QUE-PARIUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!
- Que É?
- Deixa dessa punheta, eu preciso sair, porra!
- Você é grosso, hein? Peraí que tô saindo.
- Sempre essa putaria, hein?
- Porque você não se muda, pombas?
- E eu vou deixar minha irmã morando só num mundo escroto desses?
- Você é um charme mesmo. Vai, usa esse banheiro.
- Podexar.
Certíssimo e agora?
- Pat, vem cá.
- Que foi, Mau?
Ele olha pra ela, ela olha pra ele.
- Fala, pitomba!
- Tá, seguinte. Vou sair pra jantar hoje com essa menina. Ela é bonita, inteligente...
- ... Se vai sair com você, já sei que não é.
- Pô, sério, sem onda.
- O que você quer saber?
- Sei lá, Pat, tô inseguro.
- Sério? Você? Tem espaço pra isso tudo na caixa de ossos?
- Olha, não quer me ajudar, beleza, mas não sacaneia.
- Tá, o que você quer saber?
- Bem, além do que eu disse, ela é advogada e vamos jantar num restaurante.
- Não fale mal de advogados.
- Claro.
- Mau, to falando sério.
- Pô, eu sei, Pat! Quando falei mal de advogados.
Ela começa a mostrar os dedos, como que contando.
- Tá bom, tá bom. Não falar mal de advogados.
- Não seja pedante.
- EU?
- Mau, preciso te lembrar.
- Tá bom, tá bom.
- Sério, você se acha, irmãozinho. E consegue ser um saco, muitas vezes.
- Okay. E que mais?
- Ha, sei lá... Esse teu cabelo de playmobil a gente não tem como consertar. Vai vestido como?
- Calça jeans, camisa de malha, acho. Como me visto sempre.
- Humm... Tenho certeza que ela não vai gostar.
- Porquê?
- Olha, ela deve viver cercada de um monte de homem bonitão, cheiroso, de terno e gravata, que parecem prontos para ganhar um oscar. Taí, realmente não vejo um bom motivo para ela sair contigo.
- Você é perfídia.
- Pedante.
- Tá bom, tá bom. Mas eu não vou mesmo com outra roupa, tá? Eu prefiro que a pessoa me veja como sou.
- Tudo bem. Já acho um pecado ela se dar ao trabalho de te ver mesmo.
- Você é meu perfeito super ego, viu?
- Alguém tinha de ser, não é, mister Id?
Ela pisca o olho e sai. Ele fecha a porta e faz a barba. Nada exagerado, uma aparadinha. Se olha no espelho, alisa a barba e fala em voz alta, "My precious". veste a calça, escolhe uma sem remendos. Pega uma camisa qualquer, sem marca, sem dizeres, veste. Se olha de novo no espelho. Pensa em desistir. "Podia inventar uma história, sei lá, meio heroica, mas crível. Uma velhinha tropeçou num paralelepípedo, saltei do ônibus para ajudar ela, a polícia achou que eu estava tentando assaltar ela, quase me prende, e nesse pandemônio, depois de quase levar paulada, não pude ir, podia até emendar, né? Fiquei preso a noite, naquela gaiola sem poleiro", pensa ele, suando, com o celular na mão, e verificando, sem prestar muita atenção, nas mensagens.
"Não vou amarelar, sabe, mas vou de táxi", ele diz, pegando o elevador. Conta o dinheiro na carteira, tenta, em um cálculo rápido, fazer as conta do mês. Acha que está dentro do orçamento o gasto de hoje (nota do autor: Nope, tá não).
Sua rua não é movimentada, mas anda até uma avenida. Dá com as mão duas vezes, mas nenhum carro para. Começa a fica ansioso. E é fisgado pela lua. Está imensa. O táxi para na sua frente. Espera.
- É um plenilúnio.
Ele olha assustado, percebe que o taxista se esticou para lhe dizer isso e entra no carro.
- Desculpe, fiquei distraído.
- Não tem problema, rapaz, já fiquei assim antes. Não é todo dia que você vê isso. A lua encanta, sabe? Bem, deve saber. Vai pra onde?
- É pra perto, o senhor pega a Avenida de Ontem, dobra na Rua da Língua e pega a rua do antigo bondinho. Vou pro Chatô.
- Restaurante chique, né?
- Não, na verdade não. Mas a comida é boa, o local é...
- Entendi, entendi. Você é um desses sujeitos promíscuos, né?
- Como?
- Não me entenda não, também tive minha época. Pegava todas. Como motorista de táxi, ainda dou um jeito de pegar muitas. Vida boa, né?
- É, eu suponho.
- Eu até escrevi minhas desventuras em um livro, rapaz. Abra aí o porta luvas.
Abre, e é assaltado por uma enxurrada de livros finos, um punhado deles desliza pelas suas pernas e cai no chão do táxi.
- Mas rapaz, olha o que você fez!
- Desculpe, desculpe.
- Ainda tem aquele ali. Isso. Obrigado. Bem, rapaz, em suas mãos está minha obra prima. O Pirilampo Perdulário!
- Nome muito... Peculiar.
- Peculiaríssimo. Ríssimo!
- Do que se trata? A capa é meio estranha, borrada.
- É, foi uma foto erótica que fiz. É um romance erótico, rapaz. Um livro... Pernicioso.
- Legal.
- Não vai levar um?
- Não, não. Eu só tenho mesmo dinheiro pro jantar e para a corrida.
- Pena. Mas leve um assim mesmo. Cortesia pelo papo agradável. Não é todo dia que acho alguém tão interessante para conversar, passar o tempo, sabe? Nós somos muito solitários.
- Taxistas?
- Escritores.
- Sim, sim, claro. Olha, é aqui.
- O valor está no taxímetro.
- Sim, aqui, ó. Tudo trocadinho.
- Obrigado e... Vá fundo!
Mauro não consegue achar a melhor palavra para descrever a piscadela do homem, preferindo simplesmente esquecer que a viu.
Ele chegou cedo. O restaurante tinha um ar de certa parcimônia, minimalista até. Procurou por uma mesa no canto, de costas para a janela.
Ele sabia que ela logo ia chegar, mas tentava ficar em paz por algum momento, tentando não suar.
Ele odeia essa passividade...
Ele, ele, ele, ele. Um trapézio. "Talvez, se pensar mais nela, e menos em mim, quem sabe...", mas é interrompido. É o celular.
O SMS é curto: Estou chegando.
Ele não sabe se corre ou se fica. Ainda dá tempo. Como era mesmo a história da velhinha?
E ele vê o carro dela.
E os óculos dela.
Ele não sabe de onde veio a fixação, um resquício de mente primitiva e sapiosexual que nos impulsionou para uma evolução na escolha por parceiros e parceiras mais inteligentes?
No fundo de sua mente, sua irmã racha de rir.
Ela vem chegando perto.
Já pode sentir seu perfume.
- Olá.
- Olá.
E a coisa menos estranha da noite, começa a acontecer.
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