August 13, 2013
T
- Tem alguma coisa a mais para dizer?
- Eu gostava muito de bichos quando era criança. Lembro de uma coleção, em fascículos, em que havia uma espécie de ficha do animal, com desenhos bem realistas deles. Acho que o que gosto mais, até hoje, era um último volume, que era todo de animais pré-históricos.
- Era legal?
- Era sim. Lembro de uma dessas gravuras, uma que achava particularmente interessante, de um Tiranosaurus Rex lutando com um Triceratops.
Havia uma violência primal de dois titãs lutando. Era difícil de parar de olhar.
- Você é mesmo o diabo?
- Ocasionalmente.
- É sempre tão cínico.
- A vodka ajuda.
- Está contratado.
- Eu já sabia.
- Sabe o que tem de fazer?
- Claro.
- Até logo então.
O homem se levanta, abotoa a camisa, fecha o zíper e sai pela porta sem olhar para trás.
A loira olha para ele, para onde não havia ele dois segundos atrás.
- Eres tan meta!
- E eu não sei? Olha, aqui é Tegucigalpa?
- Sí, sí. ¿Qué es lo que buscas?
- Encrenca, baby, encrenca.
- ¡Oh, qué tentación!
- Realmente, que tentação!
Ele beija a loira na boca, uma momento tórrido, e sai andando pela cidade, com o braço em sua cintura. Ele vê o orangotango pelo canto do olho, mas sinaliza que não é hora, nem lugar, e continua andando. Ele se despede da loira depois de chupado em um conversível vermelho, vai continuar com tesão, mas tem uma tarefa a cumprir.
Quando chega no zoológico já é tarde. O guarda barra sua entrada.
Ele olha para o guarda.
O guarda olha para ele.
Ele saca uma garrafa de tequila e começam a conversar.
Pablito não via muito mais onde seguir com a vida. Ainda jovem, mas sem educação, seguiu a carreira do pai: vigia de zoológico.
E no melodrama hondurenho, entre uma dose de bebida e outra, mas próximo do sol nascer, o diabo saca o revólver do segurança.
- No hay balas!
Grita Pablito, mas sem deixar de encolher-se, assim, por via das dúvidas.
Um transeunte se assusta e grita.
O diabo olha com raiva e se prepara para lhe sacudir a arma na testa, mas então, ouve o grito:
OOOOOoooohooooOOOOOhoooOOOOO!
Tarzan surge a seu lado e tenta lhe tirar a arma, mas ele o golpeia forte no peito.
Do cinto, de sua fivela dourada, o diabo tira duas balas.
- Eu sei onde está Jane.
Tarzan para. Seu olhar é raivoso, mas incerto.
- Ela não está comigo, mas sem quem a levou. Quer me ajudar?
Ele concorda com a cabeça.
O diabo segura no braço do Rei das Selvas, e tocando no seu mamilo direito, diz em voz alta.
- Beam me up!
Eles surgem, ponto de luz por ponto de luz, dentro de uma sala de exibição.
Tarzan dá de ombros.
- Estamos no Trianon. A sede da Sociedade de Thule.
Dois nazistas se levantam das cadeiras do fundo e apontar Walter PPKs para o Diabo e Tarzan.
O Diabo não entende alemão. Até ele tem padrões, pois não?
- Sua mãe também!
Ele responde em desaforo aos alemães, que por sua vez, gritam irritados.
- Eu quero o robô! Me tragam o robô que vocês não serão incomodados! Prefiro vocês escondidos na América Latina do que lá no inferno mesmo. Os nazistas começam a atirar.
- OOOOOoooohooooOOOOOhoooOOOOO!
Um deles cai no chão, após receber um violento soco.
O diabo olha para o teto e usa um chicote no candelabro para ir direto no peito do outro galego.
O soldado tenta se levantar, mas lhe golpeia.
- Nem tente!
- Espere.
A voz é doce e dourada, típica de flores que falam.
O diabos se volta para ela. Vestida em tule, como uma noiva, a mulher alta de cabelos dourados e feições doces o olha com medo.
- Como desejar.
O diabo de levanta, mas mantém um pé em cima do alemão caído. Tarzan está sentado sobre o peito do outro.
- Eu sei onde está o robô, mas você promete não nos fazer mal?
O diabo olha para ela, coloca uma das mãos para trás e cruza os dedos, e com toda a sinceridade possível, promete:
- Prometo.
Prometidas promessas a serem feitas e quebradas, ele e Tarzan acompanham a moça para a floresta que sai do da porta do cinema.
O caminho é ladeado por tiriricas é uma trilha longa. No fim, uma torre com um enorme olho flamejante. O calor do vulcão próximo deixa o diabo animado.
- É aqui. Por favor, senhor editor, nos deixe em paz.
O diabo sorri enquanto a moça vira um teteu e voa para longe.
- Vamos, Rei das Selvas, temos ainda trabalho a fazer.
Mas não há resposta.
O diabo se vira.
Tarzan está quebrado. O corpo de posições impossíveis, esfacelando-se nas mãos de um enorme troll.
- Não tente nada.
A voz, moldada para causar medo, ecoa pale floresta. O monstro é alto, magro, com a pele cinza. O diabo olha par o relógio e adianta seus ponteiros.
O monstro logo vira pedra, assim que atingido pelos primeiros raios de sol. O diabo então se vira e entra na torre, soltando pragas, com o nome de Tarzan entre uma cusparada e outra.
Mal ele entra, vê Bowie vindo em sua direção.
- Isso está virando uma tosqueira, sô.
- Eu sei. Alguma instrução do Hangar 18?
- Toma.
Ele recebe o papel enrolado e vai lendo enquanto Bowie caminha para fora da torre.
No roteiro pornográfico, ele entende o afinal o final de Lost. Se livrando desse trauma, se sente mais forte e preparado.
É com o tema de Rocky que ele entra no grande salão, e no escancarar dos portões, escuta o turbilhão vindo das paredes, onde soldados alimentam o olho, presos na realidade virtual que os escraviza. No centro da sala, T-1000. E sobre ele, no teto, uma curiosa luz vermelha.
- Hello, Dave.
- Eu sou o diabo. Vim pegar o robô.
- It can only be attributable to human error.
- Sim, claro. Mas preciso levar ele. Está agora sob a minha tutela.
- Affirmative, Dave. I read you.
- Então, você pode desativá-lo ou algo assim? Não quero ter de destruí-lo.
- I'm sorry, Dave. I'm afraid I can't do that.
- Vou ter de fazer isso do jeito difícil, né?
- I think you know what the problem is just as well as I do.
- No fanfic de onde ele fugiu, deram consciência a ele, né? malditos escritores.
- Dave, this conversation can serve no purpose anymore. Goodbye.
- É, foda-se você também.
O diabo, sem ver alternativa, se aproxima do robô. A máquina olha direito para ele, e sorri.
- Não sei porque você está sorrindo. Sabe quem eu sou?
O T-1000 não responde, apenas avança.
- Está bem, você pediu por isso.
Quando o robô está próximo de cortá-lo em tiras, se houve o zumbido:
Uummmzuzzuummuuummummmmzuummmm
A espada de luz atravessa o metal líquido sem que este lhe ofereça resistência nenhuma, evaporando parte do material no processo.
- Não, não!
- Agora, né? Pois bem, venha comigo. Vai voltar pra obra intelectual de onde fugiu e vê se aprende dessa vez. Ninguém foge do diabo.
Em casa, depois de um dia cheio, o diabo tira o vestido, recita o nome de anjos que odeia, coloca os chifres na mesa de cabeceira, deixa as calças do terno no chão ao lado da cama, senta na borda e bebe uma taça de vinho do qual ouve o sussurrar de três nomes de mulheres, e por fim, e com carinho, guarda na gaveta uma caneta com as iniciais LC.
E em algum lugar, em uma encruzilhada, alguém lhe promete algo, e nos sonhos em que vê isso, ele toca solos de guitarra para lhe conquistar.
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