May 03, 2014

Sítio



Não sei bem que horas, acordei assustado. Sei que era ainda de madrugada. Havia dormido tarde, o dia, como tantos deles, foi difícil.
Acordei com o barulho da maçaneta e sem pensar duas vezes, fiz uma barricada. Não sabia ao certo quantos era. Não mais que quatro. Pareciam ser mil. Atacam o trinco e empurravam a porta.
Eu observava o espetáculo, como única ação que, naquele momento, resumia minhas opções. Não havia como entrar em contato com os outros, não conseguiria dormir.
Mas ainda tentei. Acreditava eu que a porta resistiria. Deitei e me cobri. A noite era fria, a chuva, intensa.
Então, ouvi os arranhões.
Se não pudessem por ela abaixo, cavariam pela porta para chegar até mim. O que fazer? Não queria abrir a porta. Quem saberia o resultado do confronto?
Gás! Claro. Lembrei da lata e usei pela fresta. Sabia que isso iria, pelo menos, os atrasar.
O cheiro era forte. Preocupado, deitei e me cobri novamente.
A estratégia havia funcionado e, enquanto o sono pesado se jogava sobre mim, pensava apenas o que fazer se continuasse, ao acordar, sob esse ataque.


Acordei com uma pancada forte. Dessa vez, não eram os vilões, mas eu não sabia.
Levantei me espreguiçando e preparado para o que quer que o destino estivesse me reservando.
Ilíria olhava para mim com reprovação.
- Eu não posso viajar nem por 48 horas, né Mateus?
Eu a olhei com meu olhar de cachorro pídão, um último recurso para angariar misericórdia.
Funcionou, sempre funcionava.
Ela me abraçou enquanto deixava a bolsa em cima da mesinha, junto a lata de bom ar.
- Não deixe eles de novo com fome, tá?
- Tá, meu amor.
E os gatos, curiosos, entraram no quarto, vencedores.

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